Caramelos na freguesia
de Sarilhos Grandes
No início do século XIX Sarilhos Grandes seria um pequeno
lugarejo com diminuta população.
A vida religiosa não passava de três ou quatro casamentos por
ano e os baptizados pouco mais.
Depois da segunda década desse século a freguesia vai ser
invadida por pessoas, que alguns erradamente chamam de caramelos e os
casamentos e baptizados aumentam dez vezes mais. Trata-se de uma autêntica
invasão e a população da freguesia aumenta de forma exponencial.
Estas pessoas irão povoar as diversas quintas e regiões até
aí abandonadas, tais como, Malpique, Ponte dos Cavalos, Esteval, Lagoa do
Calvo, Quinta Nova, Broega, Abreu ou Pocariça.
Inclusive aqui se casam baptizam ou são sepultadas da vizinha
freguesia de Palmela, mas que ficam mais próximas de Sarilhos Grandes do que da
sua própria freguesia, como seja o Penteado, a Fonte da Vaca e a Carregueira.
As razões para esta “invasão” são as que já referi
relativamente às freguesias de Alhos Vedros e da Moita. Ou seja, a situação de
guerra permanente em que a sua região de origem esteve envolvida toda a
primeira metade do século, e consequentes atrocidades de que eram vítimas.
A vida destas pessoas é semelhante à das referidas freguesias
vizinhas de Alhos Vedros e da Moita. Pobreza e dificuldades assente numa
economia agrícola de subsistência. Isto revela-se quanto as pessoas se casam ou
baptizam e não pagam as respectivas taxas por serem pobres, como é referido nos
documentos. Da mesma forma quando morrem e são sepultados no adro da igreja por
não terem forma de pagar para serem enterrados no interior.
Esta situação só se altera no decorrer da segunda metade do
século, devido à evolução das técnicas agrícolas, que permitirá alguns
excedentes para comercializar, e, também, pelo aumento da população da
freguesia que permitirá o surgimento de outras profissões.
Assim, se antes de 1850 esta população era basicamente composta
por trabalhadores, jornaleiros e fazendeiros, na segunda metade, em especial no
final do século, proprietários, ligados à actividade agrícola, mas ainda lojistas,
alfaiates, sapateiros, barbeiros, negociantes, vendilhões, padeiros, quinquilheiros
ou professores.
Simultaneamente mantêm-se outras que já vinham de séculos
anteriores mas em número reduzido e não parece terem aumentado, como seja
pescador (muito poucos casos) ou moleiros, assim como as profissões ligadas às
actividades marítimas, que estranhamente não tinham peso significativo na
freguesia.
Quadro de origem dessa
população
de 1800
a 1850
|
|
|
|
|
|
homens
|
mulheres
|
|
Mira
|
|
54
|
51
|
|
Tocha
|
|
21
|
16
|
|
Arazede
|
|
32
|
24
|
|
Cadima
|
|
25
|
11
|
|
Liceia
|
|
8
|
4
|
|
Quiaios
|
|
5
|
4
|
|
Cantanhede
|
8
|
3
|
|
Alhadas
|
|
8
|
2
|
|
Coimbra
|
|
9
|
2
|
|
Ferreira
|
|
4
|
6
|
|
Aveiro
|
|
10
|
5
|
|
Lamego
|
|
4
|
1
|
|
Viseu
|
|
16
|
3
|
|
Arouca
|
|
2
|
1
|
|
|
total
|
206
|
133
|
|
|
|
|
|
|
além destes é referido ainda com uma ou
|
duas pessoas, diversas localidades como,
|
Febres, Esgueira, Águeda, Figueira da
Foz,
|
Tavarede, Redinha, Vila Nova de Anços,
|
|
Pinhel, Leiria, Porto, Valença e
Bragança.
|
|
|
|
|
|
|
de 1851 a 1910
|
|
|
|
Mira
|
|
21
|
20
|
|
Tocha
|
|
5
|
1
|
|
Arazede
|
|
3
|
3
|
|
Cadima
|
|
6
|
5
|
|
Liceia
|
|
3
|
1
|
|
Quiaios
|
|
7
|
5
|
|
Cantanhede
|
3
|
1
|
|
Alhadas
|
|
3
|
0
|
|
Coimbra
|
|
1
|
1
|
|
Ferreira
|
|
3
|
1
|
|
Aveiro
|
|
12
|
1
|
|
Lamego
|
|
1
|
1
|
|
Viseu
|
|
12
|
2
|
|
|
total
|
80
|
42
|
|
|
|
|
|
|
além destes é referido ainda com uma ou
|
duas pessoas, diversas localidades como,
|
Quintã, Monte Mor o Velho, Vagos, Porto,
|
Fuste, Tondela, Penela, Figueiró dos
Vinhos,
|
Folques, Soure, Arganil e Leiria.
|
|
Dados obtidos pelo
cruzamento das informações inseridas nos livros de baptismo e de casamento.
Os números não devem
ser considerados absolutos, antes como amostragem, quase total, da população da
freguesia considerada.
Para além das
dificuldades próprias da documentação, as dificuldades em identificar as
pessoas. Casos de viuvez em que as pessoas casam várias vezes, pais e filhos
com o mesmo nome onde os sobrinhos são mais velhos que os tios, indivíduo tem
filhos de duas irmãs, indivíduos com o mesmo nome mas sem qualquer parentesco,
outros ora nasceram aqui ora ali, ou são órfãos sem graus de parentesco, outros
com o tempo adquirem alcunhas e são assim tratados, aparece de tudo. É difícil
destrinçar quem é, ou não, originário de uma região concreta. Apesar disso considero
que a margem de erro do quadro é reduzida.
Característica diversa da verificada na Moita ou em Alhos Vedros
é o significativo número de casais que aqui se estabelecem, apesar da maioria
vir ainda solteiro.
Para finalizar aqui deixo, a quem possa interessar, uma
relação de apelidos de pessoas que nesta freguesia viveram, muitos começaram
por ser alcunhas mas que ainda hoje existem, entre os quais alguns amigos,
alguns surgem na relação já divulgada neste blogue outros não.
Algarvio, Manhoso, Caturra, Traquina, Fulgêncio, Lourizela,
Carvalheira, Pagaio, Coxo, Coxa, Bicha, Regula, Pinho, Azanha, Viola, Padelo,
Marinheiro, Espalha, Carregosa, Abraão, Zabelo, Salgueiro, Brado, Carradas, Seixo,
Grilo, Sobrinho, Moiro, Nora, Barreto, Russo, Charnequinha, Póvoas, Esperança,
Quinteiro, Talhadas, Amieiro, Tábuas, Garrano, Barrulho, Vespeira, Campante,
Balceiro, Patego, Vareiro, Caçoete, Valeira, Baiões, Prata, Mingatos, Roque,
Serrano, Ismael, Bandolim, Chula, Aguadeiro, Botas, Manso, Pretinho, Alegria,
Brinca, Pagaio, Pagaime, Braziel, Mosca, Moedas, Sacoto, Casaca e Carromeu.
Este trabalho deve ser considerado no conjunto das freguesias
da Moita e de Alhos Vedros. As opiniões gerais que aí expressei aplicam-se
também a Sarilhos Grandes.