Moita, Terra de Artistas ?
Na segunda metade do século XIX a
estrutura social e profissional da população da Moita alterou-se completamente.
Devido à evolução científica e tecnológica vão surgir novas profissões.
Desde logo as profissões
operárias ligadas às novas indústrias que se fixam na Moita como os fornos de
cal e os curtumes, que se vinham fixando desde o início do século, onde surgem
o serralheiro, o soldador, o polidor, o torneiro, o caldeireiro, o corticeiro,
etc. Mas é sobretudo com as novas profissionais ligadas ao caminho-de-ferro, do
maquinista ao chefe de estação, ao agulheiro, fogueiro, guarda-freio,
guarda-da-via e outros funcionários. Ou as relacionadas com os correios, do
chefe ao carteiro e ao guarda-fio e outros funcionários ou ao posto telegrafo,
com o respectivo chefe, telegrafista e outros empregos auxiliares.
Acresce que paralelamente ao
aumento da vila, aumentam os funcionários, desde logo da Câmara Municipal, seja
o médico, o professor, o escrivão, o sacristão, o tesoureiro, o varredor ou o
coveiro. Da mesma forma as pessoas que se dedicam à cobrança dos vários
impostos.
Acresce ainda o aumento de várias
actividades como o pequeno comércio, lojistas e comerciantes vários, como
vendedores de fruta ou vendedores de vidros. Profissões de caracter liberal
como o forjador, o funileiro, o latoeiro, o fogueteiro, os carpinteiro de
caixas, de carros ou de barcos, o pirotécnico, o estofador, o correeiro, o
albardeiro, o bolacheiro, o cigarreiro, o canastreiro, etc.
Surgem ainda pessoas que vivem de
“sua agência” ou simplesmente são gerentes. E ainda um indivíduo que é “cigano
de profissão”.
No conjunto de novas profissões
que me foi possível referenciar pela consulta dos Livros Paroquiais, houve uma
que me despertou particular atenção. Os indivíduos com a profissão de ARTISTA.
A segunda metade do século XIX trouxe a afirmação da cidadania e a da FESTA
enquanto afirmação dessa mesma cidadania. A FESTA liberta-se da tutela
religiosa e assume cada vez mais aspectos profanos. É essa conjuntura que
permite e torna necessário o surgimento de várias actividades artísticas que a animem.
Na Moita esses profissionais
denominados como artista, são ainda assim em número significativo. Para além
desses, outros passam pela Moita onde vivem “acidentalmente” ou sendo de fora
casam com mulheres da Moita e aqui passam a ter a sua residência.
Para o caso de alguém ter
interesse no tema ou disponibilidade para investigar, aqui fica a relação dos
que identifiquei.
15-9-1862. Domingos Ferreira
Torga. Artista. Foram padrinhos
Batista Arnosi, natural de Lion,
França e sua mulher Leonor Júlia Arnosi, natural de Valência, ambos artistas
ambulantes.
17-7-1864. João António Gomes
Parreira. Artista.
26-3-1866. José Gimenez Arjona,
natural de Sevilha e sua mulher Josefa Bordés, natural de Múrcia. Vivem
acidentalmente na Moita porque são Arlequins.
8-9-1867. Francisco Cipriano da
Neves. Artista
13-9-1868. Luís Ferreira Chaves.
Artista.
4-2-1872. Manuel António Botas.
Artista.
21-9-1873. Francisco Félix
Simaria. Natural de Lisboa, casado e morador na Moita. Músico.
26-6-1875. Francisco de Paula
Antas Barbosa. Artista.
21-1-1877. Luís Lopes. Artista.
5-11-1877. Manuel dos Santos.
Artista.
26-11-1877. Manuel dos Santos Calado.
Artista.
10-12-1877. João Francisco Rocio
Campos e Silva. Cómico. Natural de Lisboa e sua mulher Catarina Filomena Rocio,
Bailarina. Natural da Vila de Gáta, Estremadura, Espanha.
17-7-1879. José Marques Guerreiro
Wan Dick, natural de Liverpol e sua mulher Georgina Rolanda da Cruz Wan Dick,
natural de Lisboa, a viver na Moita. Ambos actores.
19-4-1881. Manuel dos Santos
Costa. Artista.
9-7-1883. Augusto António Soeiro.
Artista.
1-11-1883. Tomás dos Santos
Correia. Artista.
19-5-1884. Cândido José Gomes.
Artista.
15-9-1884. João Maria Escumalha.
Artista.
17-2-1885. José Joaquim do
Nascimento. Artista.
5-4-1885. Manuel dos Santos
Carlos. Artista.
25-12-1897. Francisco José dos
Santos. Artista.
10-9-1898. José Joaquim dos
Santos. Artista.
14-9-1898. José Dallot.
Comediante. Natural de Paris. Acidentalmente a viver na Moita.
1-11-1898. Manuel Joaquim Garcia o Ninau. Artista.
1-5-1899. Mateus de Jesus Lopes.
Comediante. Natural do Rossio de Abrantes. Acidentalmente a viver na Moita.
7-2-1902. Francisco Rodrigues.
Comediante. Natural de Lisboa. Acidentalmente a viver na Moita.
21-8-1910. Joaquim Gomes Almeida
Júnior. Toureiro.