Inauguração
da luz electrica em Alhos Vedros. 1928.
O
Diário de Notícias de 8-1-1928,
dedica uma página à vila de Alhos Vedros, por ocasião da inauguração da luz
electrica.
Nessa
página, a par da introdução está uma entrevista ao representante de Alhos Vedros
na Câmara Municipal, feita pelo correspondente local do Jornal. Seguem-se cinco
artigos, de diferentes autores, sobre os vários aspetos da vida local. Um terço
da página é ocupado por publicidade.
Alguns
comentários.
Na
introdução, o correspondente Joaquim Gonçalves, começa por considerar que o bom e laborioso povo de Alhos Vedros vê
satisfeita a mais querida das suas
aspirações, a luz electrica. Elogia a obra e a terra e atribui tão grande
benefício a uma plêiada de homens de
acção.
António
Carvalho, Alfredo Guilherme e Francisco Estaca Júnior são o grupo de honra que
conseguiu promover os melhoramentos, pelo que são hoje nomes respeitados e adorados.
Destaca
também Sebastião Alves Dias, representante da freguesia na Câmara, alguém que tem sabido impor-se ao respeito e
admiração de todos.
O que urge realizar é o título do artigo de Elói António Tadeu.
Começa por dizer que não é de Alhos Vedros mas pugna pelos seus interesses e
melhoramentos. Justifica com o manifesto
que apresentou aos eleitores, já em 1922, vinha consignado a iluminação pública
e particular.
Relembra
que Alhos Vedros era iluminada a petróleo, mas
podia-se orgulhar porque nestes arredores… até mesmo Alentejo e Algarve… não
havia terra que a suplanta-se.
Não
devem parar os melhoramentos. Propõe:
novo
cemitério;
duas
escolas, nas Arroteias e na Barracha Cheias, feminino e masculino; em Alhos
Vedros, a masculina fica junto à casa da venda do peixe, e a feminina numa rua
transversal que não prima pelo asseio.
Não tem capacidade para receber todas as crianças e prova é que existem quatro colégios particulares.
O
Posto Postal deve ser elevado a estação
teléfono-postal ou telégrafo-postal, em atenção ao desenvolvimento
industrial e ao progresso.
Reparação
de várias estradas, ruas da estação e do cais dão a impressão que nunca houve caminhos a macadam.
Ruas
transversais da vila calcetadas, em tempos de chuva são verdadeiros lagos.
Canalização
de esgotos e outros preceitos higiénicos, os que tem são primitivos.
Casa
de Registo Civil, para se efectuarem os actos com solenidade devida, a que existe deixa muito a desejar.
Ouvindo o representante da vila no Município, é o título da entrevista feita a Sebastião
Alves Dias. Como introdução o autor elogia a terra e os melhoramentos feitos
pelo entrevistado.
Esclarece
o autarca que a obra custou mais de 400 contos, que compromete as finanças do
Município.
Espera
fazer no ano de 1928 o calcetamento da travessa da Misericórdia e um mercado
municipal.
Quanto
às obras realizadas, já tinha obtido da Junta Geral do Distrito verba para o
alargamento e limpeza do esteiro e da cala. Concluiu alguns calcetamentos.
Criou o mercado ao ar livre. Actualizou impostos sobre o vinho e mais produtos.
Fez cumprir posturas municipais.
Quanto
ao cemitério, espera por subsídio.
Quanto
à escola, está a cargo de um benemérito.
Jaime
Saturnino Cardoso assina o artigo, Alhos
Vedros associativo. Afirma que existem quatro colectividades com fins
diferentes.
A
Sociedade Filarmónica Recreio e Entusiasmo, a mais antiga e tem uma filarmónica
com quatro dezenas de executantes.
O
Clube Recreio e Instrução, tem uma óptima biblioteca. Organiza agradáveis
festas.
Cooperativa
Operária de Crédito e Consumo, esforçada defensora do cooperativismo, modelo de
sacrifício.
União
Sporting Clube, único clube desportivo na terra, apesar de terem existido
outros, que tiveram sempre o mesmo fim.
Os longos trabalhos para erguer o clube, devem-se aos directores em especial ao
presidente José Maria dos Santos. Fundado em 1-6-1927, tem já campo de jogos.
Tem perto de duas centenas de associados, quatro categorias de futebol adulto e
duas de infantis, nadadores, pedestrianistas, e mais praticantes de outros
desportos. Graças a este clube Alhos Vedros é o centro desportivo do concelho.
Terra industrial agrícola e ferroviária é o título do artigo de Manuel Lopes Falcão.
Num fraseado romântico fala das suas vivências, bom povo, da situação
geográfica e do bom clima. Não tem casas ricas com o cunho da nobreza, antes
são modestas, limpas, higiénicas, alegres, lavadas pelo sol.
Os
arredores são férteis e povoados por gente que vive do amanho das terras.
No
campo toda a gente dorme de luz acesa para evitar os ladrões.
Conclui,
pedindo a chorar, para arranjarem a estrada para o Barreiro.
Alhos Vedros industrial, é o artigo de José Custódio Cabrita. Alhos
Vedros é uma vila próspera. Tem dezoito fábricas de cortiça, com uma população
operária superior a mil pessoas de ambos os sexos, que vai vitalizar o comércio
local.
Tem
duas fábricas de velas de estearina.
Tem
uma boa fábrica de cal.
Tem
uma produção enorme de sal, que exporta para o país e estrangeiro.
Paga
copiosa soma de contribuições e impostos. Só do ano de 1926, o Município
recebeu de reembolso 70 contos.
A
vila é esquecida do poder central. Necessita de estação telégrafo-postal. Porto
marítimo carece ser desassoreado e o cais alargado, com estes melhoramentos e
montando um guindaste o município obteria uma boa receita.
Um
terço da página é publicidade. São
29 os anunciantes, todos de Alhos Vedros.
14
anúncios a fábricas de cortiça, que oferecem, cortiça em prancha, quadros,
rolhas, aparas prensadas, rolhas especiais para farmácias e boias para cercos
de pesca.
5
mercearias, que anunciam vender pão, vinho, tabaco, fanqueiro, louças, cereais,
legumes, sementes, ferragens, tintas, gás, batata de consumo francesa, farinha,
sêmeas e palha.
2
vendas de velas.
1
carvoaria.
1
produtor e exportador de sal.
1
estância de madeiras.
1
seguros.
1
salsicharia.
1
padaria.
1
venda de cereais.
1
venda de barris de cal.
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