Terramoto de 1-11-1755
na Península de Setúbal
Introdução
O terramoto de 1 de novembro de 1755 foi catastrófico,
sobretudo para a capital de Portugal, sendo mesmo vulgarmente conhecido, como,
o terramoto de Lisboa.
É certo que foi na capital que os estragos foram maiores, e
onde houve mais vítimas, tanto por ser a cidade mais populosa, como por ter
sido particularmente atingida.
No entanto, muitas outras localidades sofreram com a
calamidade, nomeadamente a península de Setúbal e em particular a sua principal
cidade.
O registo de óbitos informa-nos sobre o número aproximado de
vítimas, e dos estragos causados, tanto nos edifícios religiosos, como nos
locais onde esses óbitos ocorreram.
A maioria das freguesias não faz referência ao acontecimento,
por não ocorrerem mortes, apesar de outros documentos referirem alguns danos.
Consultei alguns artigos dispersos sobre o acontecido, e,
apesar dos números em alguns casos não serem coincidentes, mantenho os dados
que obtive.
Este trabalho refere-se apenas à informação contida nos
livros paroquiais.
Assim, a relação é a seguinte:
Setúbal. São Julião.
Em o
primeiro de Novembro de mil setecentos e cinquenta e cinco anos, dia que
servirá de horror para os viventes, e admiração para os futuros houve nesta
vila, um terramoto tão impetuoso que totalmente assolou ainda os edifícios mais soberbos, perecendo nestes uma grande
parte de gente deste povo, que por serem inumeráveis os defuntos não houve (nem
era possível haver) lugar sagrado, em que pudessem ser sepultados; e maior
dificuldade em individuar as pessoas, e seus nomes para lhes fazer acento neste
livro e somente nele vão lançados alguns acentos de algumas pessoas, que por
serem mais conhecidas houve notícia do seu óbito; e por evitar os
inconvenientes para o futuro, e as consequências que podem nascer destas
premissas fiz este termo
26 ruínas do
colégio da Companhia de Jesus, incluí uma escrava, e uma cativa
5 ruínas da igreja de S. Sebastião
3 ruínas da
Senhora do Socorro
5 ruínas do
convento de Brancanes
1 rua das
Amoreira
3 no campo
1 debaixo
das ruínas
4 levados
pelo mar que saiu fora do seu curso natural
José que era
ermitão da ermida de S. Brás está sepultado no adro da freguesia e nesta se
achou vivo passados seis dias depois do dia do lastimoso estrago debaixo do
entulho, que excedia a seis côvados. e
dando-se-lhe a absolvição, expirou. Ditosa alma ao que parece?
Setúbal. Graça
23 travessas
e adro da igreja, pessoas que não se sepultaram na igreja, algumas
identificadas pelos vestidos e outros sinais
Setubal. Anunciada
168 pessoas
Setúbal. São Sebastião
2 ruínas do
colégio Companhia de Jesus
3 ruínas da
Matriz da Anunciada
Seixal
23 pessoas
Barreiro
3 debaixo de
umas paredes caídas… enterradas na mesma cova por causa de não haver lugar na
igreja por causa de sua ruína
1 afogado
1 afogado no
moinho da Verderena
1 debaixo
das ruínas de uma chaminé
Monte da Caparica
5 pessoas na
praia da Costa afogados com a inundação das águas
5 nas ruínas
de uma parede na Sobreda
Coina
1 faleceu de
uma desgraça do terramoto… sepultada no adro da igreja por estar caída e
entulhada
Moita.
1 pessoa
Sesimbra. São Tiago.
16 pessoas
Azeitão. São Lourenço.
8 debaixo
das ruínas do convento de São Domingos
Azeitão. São Simão.
6 sepultados
no adro por se temer ruína.
2 na ruína
que teve a igreja de São Domingos ficaram debaixo do entulho.
Palmela. São Pedro.
7 pessoas
Advirto aqui
que todas as pessoas que aqui vão numeradas no dia segundo deste dito mês acabaram
sem Sacramentos porque morreram, e ficaram debaixo das torres que estavam na
frontaria da nossa igreja as quais caíram com aquele nunca vista terramoto que
houve na manhã do primeiro dia do dito Novembro entre as nove e as dez horas
com o qual ainda que não caíram, também ficaram arruinados o coro de cima,
sacristia, e casas da fábrica e Irmandades por cuja razão mudei logo o
Santíssimo para a Misericórdia que agora serve de freguesia, o mesmo terramoto
quase arrasou, além da inumerável gente que matou, a Lisboa, Setúbal e muitas
outras terras deste Reino, e por verdade fiz este que assinei dia mês e ano ut
supra.
Prior
Domingos Gaspar Luís Branco
Tal como diz
no acento acima, no livro de batismos tem esta observação;
… no
primeiro de Novembro do dito ano não quero deixar de advertir, que neste dia,
que foi sábado, aconteceu aquele espantoso terramoto, que arruinou a sacristia,
e casas da fábrica, e Irmandades da nossa igreja, e deixou em terra a
frontaria, sinos, e as suas torres, debaixo das quais acabaram treze pessoas as
suas vidas cujo terramoto arrasou quase totalmente as povoações de Lisboa e
Setúbal, e fez perdas consideráveis em inúmeras terras assim do Alentejo como
da Beira, deste mesmo caso faço menção no livro dos defuntos que de presente serve
a folhas dezanove verso…
A diferença
de números de mortos, entre os que eu contei e os que o prior afirma,
deve-se,eventualmente, serem paroquianos de outras freguesias e serem nelas
sepultados e registados. Como é o caso da freguesia de Santa Maria, que segue
abaixo. Ainda assim não são precisos, nem os dois padres coincidem no número
exato de vítimas.
No dia
11-12-1775, houve outro terramoto que o Prior de Palmela registou da seguinte
forma:
Na madrugada
deste dia depois das quatro horas sucedeu
um terrível terramoto semelhante ao outro de que fiz memória neste livro
a folhas dezanove verso e no dos batismos, que de presente serve a folhas cento
e cinquenta e seis verso e ainda que este segundo não produziu as fatalidades
que fez o primeiro contudo ainda assustou mais as gentes por conta de um
medonho ruído que lhe precedeu e por verdade fiz este que assinei dia, mês e
ano ut supra.
Palmela. Santa Maria.
5 pessoas,
todas debaixo das ruínas da igreja de S. Pedro
Em o
primeiro dia do mês de Novembro de mil setecentos cinquenta e cinco houve um
terramoto nesta terra em que caíram algumas casas e a torre das igrejas de S.
Pedro em que matou dez ou doze pessoas e quase todas as casas desta povo se
arruinaram.
Conclusão.
Pelos dados acima referidos torna-se evidente que os efeitos
do terramoto se fizeram sentir de forma cruel em toda a península de Setúbal.
Sobretudo na cidade de Setúbal, as vítimas ultrapassaram
seguramente as duas centenas, e os estragos foram enormes, que se fizeram
sentir por várias décadas, e, como o próprio padre confirma, não foi feito o
respectivo registo de óbito de muitas pessoas que faleceram nesse dia, pelo
que, nos anos seguinte, o último dos quais vinte anos depois, bastantes pessoas
solicitavam confirmação da morte de seus familiares.
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