Temporais na Moita em
1876.
O inverno de 1876 foi rigoroso em todo o país e também na
nossa região, com temporais, chuvas intensas e cheias.
A água no Tejo subiu a níveis históricos registados em
diversas povoações ribeirinhas.
O concelho da Moita não poderia, obviamente, ter escapado
ileso aos acontecimentos e isso é reflectido nas decisões da Câmara.
Assim sabemos que em 5 de Dezembro de 1876 foi deliberado que
“tendo as grandes mãos d’ água causado
nas estradas e na vila poderosas e perigosas cheias,…, era preciso e até
urgente conservar gente em exercício permanente para desentulhar valetas e
cortar as águas,…, e evitar assim desabamento de algumas casas mal construídas”.
Uma semana depois é necessário reparar com urgência as
estradas, porque estavam perigosas e intransitáveis, devido às “chuvas dos últimos dias”, para isso foi
autorizado retirar as verbas necessárias do “cofre
da viação”.
As consequências deste inverno começaram a revelar-se
posteriormente. Logo em Fevereiro de 1877 a Câmara regista que a chuva arrastou
areias que cobriram a praça do Pelourinho e o largo do poço do concelho, toda a
zona “ao longo da praia contígua ao
esteiro” e destruiu o aterro do porto novo.
Em Março, inicia-se o balanço dos estragos provocados pelos
temporais e cheias. Na Moita contabiliza-se 62 casas danificadas e em Alhos
Vedros 45, cujos estragos foram avaliados em 2.246.380 reis e 1.437.060 reis
respectivamente. Parece que o temporal passou ao lado de Sarilhos Pequenos e do
Rosário, pois nestas povoações não foi registado qualquer estrago.
Salvador José Castanho também declara prejuízos avultados na
sua propriedade da Fonte da Prata.
Em Abril são os proprietários das faluas, barcos e fragatas a
pedir que “areia no cais fosse
desentulhada,…, grandes quantidades ali acarretadas pelas cheias de inverno”. Câmara
decide incluir no orçamento para o biénio de 1877 / 78, a quantia de 100.000
reis para “efectuar o desentulhamento”.
O mesmo aconteceu com a caldeira do rio da Moita, “que ficou bastante entulhada, impossibilitando
os barcos de chegar ao cais”.
O arrematante da estrada da Broega a S. Sebastião, (então em
construção), pede para ser indemnizado, em virtude do excesso de trabalho feito
e porque os aterros, por falta de viadutos construídos a tempo, estavam muito destruídos
e “mais alterações que se podem
facilmente reconhecer e avaliar para decidir”. Um mês depois o empreiteiro
desta obra volta a insistir para que “fosse
abonada cifra pelo excesso de trabalhos,…, estragos das cheias”.
Igualmente as canalizações da mãe d’ água que conduzem a água
ao chafariz ficaram entupidas, decidindo a Câmara incluir “no próximo orçamento” verbas necessárias para fazer a limpeza.
Também é referida a petição de José Pinheiro, que pede
100.000 reis, porque, “a fazenda que
possui nos Brejos da Moita,…, foi completamente aniquilada pelas cheias e
temporais”. A Câmara aceitou “devido
às informações”.
O mau tempo fez-se sentir um pouco por todo o país, com
avultados prejuízos, que levou à criação de uma comissão central de socorro e
apoio às vítimas dos temporais, presidida pela própria rainha.
Sabemos que na Moita o prazo para que as vítimas dos
temporais reclamassem apoio terminou a 26 de Junho de e que essas reclamações
foram apreciadas a 9 de Julho e que a 13 foram divulgadas as reclamações
aceites.
Decerto que houve mais estragos do que os atrás referidos,
basta verificar que no domínio público parece que apenas a Moita foi afectada e
nos particulares em largas não houve pedidos de apoio, o que se estranha.
Mas isto é o que é possível, de momento, dizer sobre o
assunto, mas estou certo que alguém, no futuro, o esclarecerá melhor pois
existe documentação para isso.
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