A
vida nos anos trinta. Alhos Vedros.
Na década de trinta, Alhos
Vedros era uma pequena vila, onde todos se conheciam e os acontecimentos eram
vividos de forma intensa. Os conflitos laborais nas fábricas do Barreiro e
consequentes prisões e exílios atingiam vários alhosvedrenses que ali
trabalhavam.
Em 1936 Eláudio Tarouca,
assassinou com dois tiros, Sousa Correia, dono da fábrica de cortiça
“corchera”. Foi também a época em que as fábricas ardiam com frequência
invulgar. O comércio local era diminuto. Tinha algumas lojas e mercearias,
sendo a mais conhecida a do Ti Viegas, que vendia de tudo e também bacalhau
fiado, depois de molhado, mas onde a água e o sabão não entravam.
Havia várias tabernas sendo
as mais conhecidas a do Malagueta e a do Papa Ratos, onde se bebia bom vinho,
com água quanto baste e o martelo ainda era proibido, e se jogava às cartas
que, muitas vezes, acabava em desordem. Havia ainda quatro padarias, sendo a
mais afamada a do senhor João Pinto, frente ao coreto, três sapateiros, a agência
de seguros do senhor Pingocho e a farmácia do senhor Ezequiel.
Nas duas colectividades
existentes, a Velhinha e o Cri, organizavam-se bailes abrilhantados por
Virgílio Pereira e respectivos filhos, bastantes para formar uma orquestra.
Realizavam-se também sessões teatrais, sempre com os mesmos actores, ou seja, o
Paixão, os irmãos Gameiro e o cómico Valverde. Os papéis femininos eram todos
desempenhados por Elvira Guedes, de Lisboa, pois as mulheres da terra não se
atreviam a subir ao palco. O que se dizia da Elvira no rio dos Paus, onde se
lavava a roupa suja e a outra, e nas tabernas, chegava para dissuadir as mais
corajosas.
Naquele ano, coube à
Velhinha organizar as festas, que não incluíam programa religioso, pois, desde
1910, não se celebrava o culto na igreja. O carnaval passa com os tradicionais
banhos de água aos desprevenidos, atirados de portas, janelas e esquinas, e com
carroças metidas em charcos, marinhas e viveiros, pela calada da noite,
causando aos donos vários embaraços para as retirar.
Inaugurou-se o Asilo da
Misericórdia, e pouco depois, a maternidade, obtida pelo trabalho de várias
senhoras que organizaram sorteios, festas, recolhas de donativos, etc.
Inaugurou-se também a estação de telefone e telégrafo.
Clubes de futebol existiam
inicialmente dois, o Graça e o Internacional, depois surgiu o União Sporting.
As sedes eram simples barracas onde as direcções faziam as reuniões, que, por
vezes, acabavam com uma paulada no gasómetro a carboreto, e onde os jogadores
pagavam uma quota mensal para poderem jogar.
Até então o campo de jogos
era o largo da Graça, pouco apropriado pois tinha duas oliveiras a servir de
balizas e um poço a avançado centro. Havia, no largo do Mercado, um outro campo
impróprio para o jogo, por ser inclinado, não ter área suficiente e num dos
lados ter um muro que os jogadores utilizavam para fintar os adversários.
É neste contexto que a Junta
de Freguesia e o União Sporting decidiram construir o parque desportivo da Bela
Rosa, inaugurado em 1936. O jogo de inauguração foi entre o clube local e “Os
Leões do Barreiro”.
Jornal O Rio. Março de 1998.
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