O que trouxe o ano de 1898.
O facto mais importante do ano de
1898 para a Moita foi a definitiva elevação a sede de concelho. Logo em Janeiro
foi empossada a nova Câmara respectivos pelouros: Presidente Manuel Maria Antas
Barbosa; contencioso, beneficência e secretaria. Vereadores: José Filipe
Guerreiro; cais e porto, António José da Costa; matadouro e viação, Manuel Dias
de Almeida; limpeza e iluminação, Francisco Tavares; serviços municipais em
Alhos Vedros.
Nessa primeira reunião foi
aprovado enviar ao ministro do Reino o reconhecimento da Câmara por ter
cumprido lealmente a promessa. Enviar a António Isidro de Sousa um voto de
profunda gratidão por tanto ter pugnado pela nossa Câmara. Enviar a Câmara de
Alcochete um ofício de congratulação por o mesmo se terem livrado da tutela de
estranhos. Agradecer ao povo por se ter associado aos festejos realizados. As
reuniões seguintes serviram para organizar os serviços administrativos, admitir
funcionários e nomear comissões que garantissem as suas competências, como o
recrutamento militar e o recenseamento eleitoral. Outro assunto foi efectuar
junto das câmaras a que as duas Juntas de Freguesia pertenciam, a separação de
competências e encargos como os contratos municipais em vigor de arrematação de
impostos e das adjudicações de limpeza e de iluminação.
Outras questões foram tratadas
nesse ano. Comemorou-se a Viagem de Vasco da Gama, com iluminações no Paço do
Concelho e convites aa população e aas bandas filarmónicas para participarem
nas demonstrações de regozijo que a Comissão Central decidisse efectuar na
Moita. Proibiu que a porta da caldeira fosse fechada sem licença, normalmente
só era autorizada para a realização de touradas. Autorizou a aquisição de
material escolar para as escolas do concelho, bem longe, todavia, das
solicitações feitas pelos professores. Obrigou os donos dos jazigos a limpa-los
e a cumprir a norma de remover os cadáveres após cinco anos. Significativos
foram os subsídios aas viúvas para aleitação dos filhos, pois não tinham com
que os alimentar devido aa extrema pobreza. Determinou que o cidadão para ser
eleitor tinha de saber ler e escrever, ou pagar de imposto no mínimo 1 000 reis
anualmente. As obras públicas ficaram-se por alguns reparos nos Paços do
Concelho, num muro da estrada do Rosário e nas obras de arte da estraga de
Sarilhos.
Foram aprovados os impostos
indirectos sobre o comércio incluindo os bens de primeira necessidade, abrangia
desde o sabão e o petróleo ate ao vinho e ao pão e foi estabelecida a tarifa
diária dos serviços de viação municipal, pelo modo seguinte: carros de vacas ou
bois, 800 reis; carruagens e carretas, 1 000 reis; animal de carga ou tiro,
maior ou menor, 500 e 240 reis respectivamente, trabalho pessoal 200 reis, por
dia.
Em Alhos Vedros o ano foi
terrivelmente mau. A vila foi atacada por uma epidemia de varíola que matou
dezenas de pessoas, sobretudo crianças. O médico informava que a população não
aderiu aa vacinação e não a tomava de livre vontade e os pais por desleixo não
vacinavam os filhos. A Câmara procura evitar a propagação da doença mandando
limpar algumas travessas e os candeeiros de iluminação pública por se
considerarem anti higiénicos e pôr aa disposição do delegado de saúde duas
meias barricas, uma de cloreto e outra de sulfato de cobre para desinfectar as
valetas e outros lugares necessários.
As medidas não foram eficazes
pois em Junho a Junta da Paroquia solicitara a devolução de um terreno, que
havia cedido, junto ao cemitério, para alargamento do mesmo, por já não haver
espaço onde enterrar mais pessoas. No final do ano a população entra em
conflito com o médico, apontando-lhe algumas irregularidades e chegando mesmo a
agredi-lo. A Câmara mandando averiguar os factos concluiu; que o médico dava
lugar a contínuos conflitos e clamores exigindo de doentes pobres e indigentes
honorários por serviços que por obrigação deve atender gratuitamente. Nega-se a
atender quem não paga, chegando até a rasgar as receitas depois de as passar.
Apresenta-se em casa dos doentes completamente embriagado. Chamado em casos
urgentes, não vai. Na contestação que fez aas acusações contra si, exigiu
assinaturas sob ameaças aos doentes que andava a tratar e outras são falsas,
visto serem de pessoas que não sabem ler nem escrever, ou são moradores no
Barreiro. Inquirido pela Câmara respondeu de forma inconveniente e ardilosa.
Visto os factos foi por unanimidade aprovada a sua exoneração, para impedir
vindictas contra os que o acusavam das irregularidades e restabelecer a
tranquilidade afastando-o do meio daqueles que já não pode servir.
Notícias da Moita. Janeiro de
1998.
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