sábado, 31 de maio de 2014

Moita, Terra de Artistas ?

Moita, Terra de Artistas ?
Na segunda metade do século XIX a estrutura social e profissional da população da Moita alterou-se completamente. Devido à evolução científica e tecnológica vão surgir novas profissões.
Desde logo as profissões operárias ligadas às novas indústrias que se fixam na Moita como os fornos de cal e os curtumes, que se vinham fixando desde o início do século, onde surgem o serralheiro, o soldador, o polidor, o torneiro, o caldeireiro, o corticeiro, etc. Mas é sobretudo com as novas profissionais ligadas ao caminho-de-ferro, do maquinista ao chefe de estação, ao agulheiro, fogueiro, guarda-freio, guarda-da-via e outros funcionários. Ou as relacionadas com os correios, do chefe ao carteiro e ao guarda-fio e outros funcionários ou ao posto telegrafo, com o respectivo chefe, telegrafista e outros empregos auxiliares.
Acresce que paralelamente ao aumento da vila, aumentam os funcionários, desde logo da Câmara Municipal, seja o médico, o professor, o escrivão, o sacristão, o tesoureiro, o varredor ou o coveiro. Da mesma forma as pessoas que se dedicam à cobrança dos vários impostos.
Acresce ainda o aumento de várias actividades como o pequeno comércio, lojistas e comerciantes vários, como vendedores de fruta ou vendedores de vidros. Profissões de caracter liberal como o forjador, o funileiro, o latoeiro, o fogueteiro, os carpinteiro de caixas, de carros ou de barcos, o pirotécnico, o estofador, o correeiro, o albardeiro, o bolacheiro, o cigarreiro, o canastreiro, etc.
Surgem ainda pessoas que vivem de “sua agência” ou simplesmente são gerentes. E ainda um indivíduo que é “cigano de profissão”.
No conjunto de novas profissões que me foi possível referenciar pela consulta dos Livros Paroquiais, houve uma que me despertou particular atenção. Os indivíduos com a profissão de ARTISTA. A segunda metade do século XIX trouxe a afirmação da cidadania e a da FESTA enquanto afirmação dessa mesma cidadania. A FESTA liberta-se da tutela religiosa e assume cada vez mais aspectos profanos. É essa conjuntura que permite e torna necessário o surgimento de várias actividades artísticas que a animem.
Na Moita esses profissionais denominados como artista, são ainda assim em número significativo. Para além desses, outros passam pela Moita onde vivem “acidentalmente” ou sendo de fora casam com mulheres da Moita e aqui passam a ter a sua residência.
Para o caso de alguém ter interesse no tema ou disponibilidade para investigar, aqui fica a relação dos que identifiquei.
15-9-1862. Domingos Ferreira Torga. Artista. Foram padrinhos
Batista Arnosi, natural de Lion, França e sua mulher Leonor Júlia Arnosi, natural de Valência, ambos artistas ambulantes.
17-7-1864. João António Gomes Parreira. Artista.
26-3-1866. José Gimenez Arjona, natural de Sevilha e sua mulher Josefa Bordés, natural de Múrcia. Vivem acidentalmente na Moita porque são Arlequins.
8-9-1867. Francisco Cipriano da Neves. Artista
13-9-1868. Luís Ferreira Chaves. Artista.
4-2-1872. Manuel António Botas. Artista.
21-9-1873. Francisco Félix Simaria. Natural de Lisboa, casado e morador na Moita. Músico.
26-6-1875. Francisco de Paula Antas Barbosa. Artista.
21-1-1877. Luís Lopes. Artista.
5-11-1877. Manuel dos Santos. Artista.
26-11-1877. Manuel dos Santos Calado. Artista.
10-12-1877. João Francisco Rocio Campos e Silva. Cómico. Natural de Lisboa e sua mulher Catarina Filomena Rocio, Bailarina. Natural da Vila de Gáta, Estremadura, Espanha.
17-7-1879. José Marques Guerreiro Wan Dick, natural de Liverpol e sua mulher Georgina Rolanda da Cruz Wan Dick, natural de Lisboa, a viver na Moita. Ambos actores.
19-4-1881. Manuel dos Santos Costa. Artista.
9-7-1883. Augusto António Soeiro. Artista.
1-11-1883. Tomás dos Santos Correia. Artista.
19-5-1884. Cândido José Gomes. Artista.
15-9-1884. João Maria Escumalha. Artista.
17-2-1885. José Joaquim do Nascimento. Artista.
5-4-1885. Manuel dos Santos Carlos. Artista.
25-12-1897. Francisco José dos Santos. Artista.
10-9-1898. José Joaquim dos Santos. Artista.
14-9-1898. José Dallot. Comediante. Natural de Paris. Acidentalmente a viver na Moita.
1-11-1898. Manuel Joaquim Garcia o Ninau. Artista.
1-5-1899. Mateus de Jesus Lopes. Comediante. Natural do Rossio de Abrantes. Acidentalmente a viver na Moita.
7-2-1902. Francisco Rodrigues. Comediante. Natural de Lisboa. Acidentalmente a viver na Moita.

21-8-1910. Joaquim Gomes Almeida Júnior. Toureiro.