terça-feira, 14 de agosto de 2018

Escravos na Península de Setúbal. Depois de 1750.


Escravos na Península de Setúbal
depois de 1750
Introdução
Pela leitura dos livros paroquiais, relativos às freguesias da península de Setúbal, deparamo-nos constantemente com indivíduos na condição de escravos, dispersos no tempo e em todas as freguesias.
Sabemos que desde o século XV, este flagelo foi constante, por razões rácicas ou religiosas são muitos os testemunhos que evidenciam a crueldade a que estas pessoas foram sujeitas, assim como a violência da estupidez ideológica que a fundamentava.
Os acentos paroquiais são quase estéreis sobre este aspecto, embora possamos tirar algumas conclusões sobre a vida destas pessoas.
Relação de escravos
Alcochete.
13 homens.
28 mulheres.
(7 são casais).
Proprietários 25. (4 são padres).
Não referidos como escravos;
7 homens pretos.
1 preto fugido.
1 homem pardo.
1 mulher parda.
Coina.
2 mulheres.
3 menores.
Proprietários 1. (militar).
Não referidos como escravos;
1 homem pardo.
Barreiro.
2 homens.
10 mulheres.
2 casais.
9 menores.
Proprietários 12. (1 pescador, 1 militar,1 padre).
1 casal de pretos forros.
Lavradio.
6 homens.
9 mulheres.
5 menores.
Proprietários 12. (3 nobres, 1 militar).
Amora.
1 homens.
4 mulheres.
1 casal.
2 menores.
Proprietários 6. (1 padre).
Arrentela.
7 homens.
8 mulheres.
1 escrava parda.
4 menores.
Proprietários 7. (1 militar, 1 padre).
Não referidos como escravos, ou livres;
1 preto forro.
1 pardo.
1 preta.
Azeitão. São Lourenço.
9 mulheres.
Proprietários 7. (1 militar, 1 nobre).
Não referidos como escravos;
4 homens pretos.
2 mulheres pretas.
1 mulatinha.
Azeitão. São Simão.
3 homens.
6 mulheres.
3 menores.
Proprietários 9. (1 militar).
Não referidos como escravos, ou livres;
1 preto, viúvo, mendigo, de 70 anos de idade, mais ou menos.
1 preta, solteira.
1 preta.
1 mulato, casado.
1 parda, solteira, criada.
1 preta, livre.
1 homem.
Proprietário 1.
Caparica.
15 homens.
28 mulheres.
13 menores.
Proprietários 35. (1 militar, 1 padre).
Seixal.
5 homens.
9 mulheres.
2 menores.
Proprietários 7. (1 militar, 1 doutor).
Não referidos como escravos, ou livres;
2 pretos forros.
1 homem preto.
1 casal de pardos.
1 preta, viúva.
Corroios.
3 homens.
3 mulheres.
2 menores.
Proprietários 5.
Moita.
7 homens.
7 mulheres.
1 menor.
Proprietários 13. (1 militar, 1 Juiz de Fora, 1 doutor, 1 estalajadeiro, 1 cabeleireiro).
Não referidos como escravos;
1 preto.
1 preta.
1 parda.
1 parda, criada.
1 casal de pardos.
1 homem pardo.
1 preto e muito velho.
1 preto muito velho e mendicante.
1 preta, criada.
1 pretinha que criava a mulher de João Francisco.
Alhos Vedros.
2 homens.
9 mulheres.
4 menores.
Proprietários 9. (1 padre).
1 preto, não se sabe se era forro ou cativo.
Sarilhos.
Não referidos como escravos;
1 homem preto.
1 homem pardo.
Marateca.
1 homem.
2 mulheres.
Proprietários 2. (1 padre)
Não referido como escravo;
1 homem preto.
Palmela. São Pedro.
10 homens.
18 mulheres.
13 menores.
Proprietários 22. (3 padres, 2 militares, 1 doutor).
Não referidos como escravos, ou livres;
1 preta, solteira e livre.
3 homens pretos.
1 mulher preta.
1 preto, casado.
3 mulheres pardas.
1 homem pardo.
1 preto enjeitado.
1 preta enjeitada.
Palmela. Santa Maria.
9 homens.
17 mulheres.
8 menores.
Proprietários 23. (4 padres, 3 militares, 1 doutor).
Não referidos como escravos, ou livres;
1 preta forra.
4 homens pardos.
4 mulheres pardas.
1 preta enjeitada.
3 casais de pretos.
Montijo.
13 homens.
31 mulheres.
5 menores.
Proprietários 35.
Não referidos como escravos, ou livres;
1 escravo forro.
1 mulher forra.
1 homem preto.
1 mulher parda.
1 mulato.
1 mulata.
Setúbal. São Julião.
20 homens.
63 mulheres.
12 menores.
Proprietários 80. (5 padres, 5 doutores, 4 militares).
1 Não referidos como escravos, ou livres.
1 preta que deixou livre o padre.
1 casal de pretos.
4 mulheres pardas.
3 mulheres pretas.
1 homem pardo.
1 preta, solteira.
1 preta assistente na Rua Direita.
Setúbal. Nossa Senhora da Graça.
1 homem.
11 mulheres.
10 menores.
Proprietários 12. (1 padre, 1 militar).
Não referidos como escravos, ou livres.
5 pretas forras.
1 preto, pedido o seu nome nunca o deu.
Setúbal. Nossa Senhora da Anunciada.
6 homens.
10 mulheres.
2 menores.
Proprietários 14. (2 padres, 1 doutor).
Setúbal. São Sebastião.
32 mulheres.
5 menores.
Proprietários 33. (2 padres, 2 militares, 1 doutor, 1 carpinteiro de barcos).
Não referidos como escravos, ou livres;
1 casal de pretos forros.
1 casal de pretos.
4 mulheres pretas.
1 homem pardo.
Sesimbra. São Tiago.
18 homens.
30 mulheres.
10 menores
Proprietários 24. (3 militares, 1 padre, 2 funcionários, 2 nobres, 1 doutor).
Não referidos como escravos, ou livres;
1 mulata forra.
1 parda,viúva e forra.
1 preta forra.
1 deitada dentro de poço, dizem ter enlouquecido.
1 escrava viúva.
1 preto que nunca se soube de quem era filho.
1 escravo natural de Viseu.
Sesimbra. Castelo.
2 homens.
4 mulheres.
1 menor.
Proprietários 4. (2 nobres, 1 militar, 1 padre).
Não referidos como escravos;
1 menor filho de Diogo, homem pardo, e de sua mulher Maria.
1 homem pardo.
2 menores escravas.
Total:
168 homens.
274 mulheres.
114 menores.
Origem
Na quase totalidade dos escravos referenciados, o acento não esclarece sobre a origem ou naturalidade desse escravo. São poucos os casos em que a naturalidade é referida, e, muitas vezes é mesmo afirmado o desconhecimento, e também de pais.
Os poucos acentos em que é identificada a origem ou naturalidade do escravo, referem de forma genérica a Angola, ou, por vezes, Benguela. Alguns, poucos, referem Cacheu.
Alguns serão oriundos do Brasil, surge um indivíduo de Pernambuco, outro Rio de Janeiro e ainda outro de Minas Gerais.
Numa das situações o escravo é natural de Viseu.
Também se pode entender esta situação com o facto de, eventualmente, a maioria destes escravos ter já nascido em Portugal.
Surgem também indivíduos de quem nada se sabe. Não só a nacionalidade, como paternidade, como até se são escravos, ou livres, e mesmo alguns que recusam identificar-se.
Em vários acentos dizem apenas que é um inocente, escravo, mas não identificam, nem o escravo nem a mãe.
Absolutamente espantoso é o facto de um escravo na freguesia do Lavradio ser preto de “nascença”.
Situação Social
A situação social e económica do escravo não seria muito diferente do conjunto das pessoas de condição social mais baixa.
A situação de homens vagos ou vagabundos, homens de ganhar, criados e criadas, moço e moças, mariola, caramelo, maltes, não seria muito diferente do escravo, eventualmente seriam até socialmente mais vulneráveis. Se, relativamente ao escravo, o esclavagista, o tenta manter e alimentar, nem que seja para não perder o investimento, já em relação ao conjunto dos outros indivíduos, teoricamente trabalhadores livres, está isento dessa obrigação, nada tem a perder, tem sempre mão-de-obra disponível no caso de algum deles morrer.
Actividades
Apesar dos documentos não esclarecerem, os escravos de forma geral, ocupam-se nas actividades e serviços caseiros, relacionados com a actividade profissional do dono.
Apenas um caso é esclarecedor. Trata-se de um pescador do Barreiro, que é também proprietário da embarcação em que pesca, e, é dono de um escravo que ocupa o seu lugar no barco. Quando este naufragou e toda a tripulação morreu, obviamente que foi o escravo a vítima. Neste caso o escravo funcionou como seguro de vida para o dono.
Da mesma forma, os escravos, de proprietários agrícolas é suposto que trabalhassem nas actividades agrícolas. Como nas Hortas, em Palmela, ou, na quinta da Freira, na Moita.
Já os escravos, de militares, padres, doutores, funcionários ou nobres, é suposto serem empregados domésticos e pessoais dos donos.
Também é referido como proprietário de um escravo, um indivíduo com a profissão de carpinteiro de barcos, outro de cabeleireiro e outro como estalajadeiro.
Entre as pessoas pretas, mas não referidas como escravos, nem como livres ou forros, é referido um carpinteiro, um oficial da fábrica da sola, outro trabalhava no arsenal e ainda uma mulher como linheira.
As actividades e o comportamento social dos escravos, são regulamentadas por posturas municipais, como na Moita. Neste caso, porque o número de escravos é diminuto, torna-se ridículo, legislação específica destinada a meia dúzia de pessoas.
Proprietários
Na região não existem os grandes esclavagistas, proprietários de dezenas de escravos. Aqui não existem actividades agrícolas ou industriais com base em mão-de-obra escrava.
A maioria tem apenas um ou dois escravos, raramente mais. Mesmo proprietários de casais de escravos com objectivo reprodutivo são raros.
Apenas em dois casos o escravo é propriedade de dois donos diferentes. Diferente do facto dos proprietários serem casal, que é vulgar.
Apenas identifiquei duas escravas que sendo propriedade de um indivíduo, surgem depois como propriedade de outro, ou seja, mudaram de dono.
Curioso é o facto de algumas vezes, por morte de uma criança, ser referido que o pai tem um dono e a mãe ter outro diferente. Ou seja, os esclavagistas combinam a reprodução dos seus escravos, ou então, alugam o macho, como se faz com o gado.
Também se verifica que existem casais de escravos em que o homem é pertença de um senhor e a mulher de outro. Provavelmente para rentabilizar o investimento com o nascimento de novas crias, (é assim que são tratadas).
O facto de em geral essas pessoas serem tratadas como escravos, e outras como preto cativo, pode significar a diferença entre os escravos já nascidos em Portugal e outros oriundos de África, ainda imbuídos da cultura dos seus países, e por isso incapazes de cumprir tarefas específicas no novo contexto para onde foram transportados.
Nesta época de luxo e pomposidade, também não é de excluir a hipótese de alguns destes esclavagistas serem donos de pessoas como se de objectos se tratassem, com símbolos de riqueza ou poder, para além de efectuarem as tarefas que lhes incumbissem.
Forros
Surgem vários casos de escravos que adquiriram alforria. Também nesta situação não é claro o motivo, ou a forma como a adquiriram. Apenas numa situação esclarece que foi o padre que por sua morte lhe deu alforria.
Vários são os indivíduos, pretos, que sendo velhos se dedicam à mendicidade. Não são referidos como escravos, nem como forros. Eventualmente adquiriram a liberdade depois de velhos, por já não serem úteis aos donos. Isto verifica-se por uma carta de alforria dada a uma mulher em Alhos Vedros, como reconhecimento por “me ter servido muito bem e já estar velha”. Por detrás de um sentimento piedoso, pode esconder-se a suprema hipocrisia.
Outra situação que se confirma por uma carta de alforria são as relações familiares. O esclavagista fazer filhos na própria escrava. Neste caso é dada alforria a um rapaz porque, “é filho do meu filho”, ou seja, é seu neto. Ainda assim na condição de “me servir enquanto for vivo”.
Por este tipo de acentos não sabemos o que acontece quando morre o esclavagista; quem fica com o escravo? Desde logo, se esse esclavagista tem herdeiros directos, ou se tendo vários, estes disputam a herança. Existem situações em que o escravo é propriedade de um indivíduo e por morte deste, surge como assistente ou como criada em casa de outra pessoa. Por outro lado, temos de considerar se o herdeiro está interessado na herança, ou seja, se o escravo lhe interessa. Sendo velho, tendo alguma doença incapacitante, ou de alguma forma não seja rentável para o seu senhor, se este não é abandonado.
Relações sociais
Os escravos aparecem também relacionados com funções que aparentemente não lhes seriam confiáveis. Assim, várias crianças enjeitadas ou filhos de pais incógnitos são entregues ao cuidado de escravas.
O contrário também se verifica, crianças pretas ao cuidado de mulheres brancas. O facto de haver crianças enjeitadas, de cor negra, significa que a escrava que abandonou o filho esperava que nessa condição se livrasse da escravatura. Poderia ser filho de um casal de pretos forros, mas nessa condição tinham outros meios para deixar o filho, inclusivamente na roda.
É provável, também, que o óbito de alguns escravos não fosse registado. Num caso o registo é feito algum tempo depois por ordem do Reverendo Prior, porque o padre não o tinha feito.
É referido ainda um preto como maltes, ou seja, indivíduo livre catalogado como vadio.
Outro homem preto, não se sabe se era livre ou cativo.
Por fim, uma escrava foi achada afogada no poço, e no acento é registado que foi “sem culpa de seus senhores”, o que é despropositado e leva a supor que alguns morreriam por culpa dos senhores.
Religião
A maioria dos acentos de óbito de escravos, não refere os sacramentos da hora da morte. Muito poucos se confessam e cumprem os requisitos desse momento.
Os enterramentos são em geral no adro, raramente pagam a “esmola costumada”, por pobreza. Ora, não é suposto os escravos serem ricos, ou mesmo possuírem dinheiro, logo a obrigação de pagar a sepultura deveria pertencer ao dono, que, como é evidente se eximia a esse encargo. Portanto, também na morte, os escravos estão ao nível mais baixo da população.
Ainda assim, alguns, através dos donos, suponho, pagam a dita “esmola”. Raríssimos os escravos sepultados em local privilegiado das igrejas.
Relações familiares
É um pouco pretensioso tentar encontrar algum tipo de relação familiar entre escravos. Todavia, ao longo do tempo acabaram por se estabelecer diversos tipos de relações raciais, que desvirtuam os fundamentos ideológicos da escravatura.
Mas podemos identificar relações maritais entre escravos, sejam propriedade de um só senhor, ou, cada um dos membros do casal de um senhor diferente.
Também existem casais em que o homem é branco e livre, e a mulher preta escrava. Os filhos são escravos do dono da escrava.
O contrário também se verifica em três ocasiões, o homem é preto e a mulher branca, nestes casos são ambos livres.
Também acontece haver filhos de homens mulatos ou pardos, com mulheres mulatas ou pardas, assim como com brancas ou pretas. O contrário também se verifica. No início do século XIX, as relações entre brancos, e sobretudo, escravas pretas, produziu quantidade suficiente de mulatos, livres e forros, alguns adquiriram posições de relevo, capaz de anular e descredibilizar os fundamentos da escravatura.
No final do século XVIII, um indivíduo, assume que os filhos, naturais de Minas Gerais, no Brasil, são de uma preta.
O mais comum é as mulheres escravas terem filhos de pai incógnito. Como é pouco credível que um esclavagista tivesse uma escrava para o vizinho fazer filhos, o mais razoável é que fosse objecto sexual do dono, portanto o pai é o próprio esclavagista ou alguém das suas relações próximas.
Várias vezes um esclavagista tem uma escrava, de nome Maria, (por exemplo), que tem uma filha de nome Maria. Anos depois, após a morte da escrava mãe, o dito esclavagista tem uma criada de nome Maria. Pode não ser a filha da escrava, mas, sem outros elementos fica a suspeita. A Maria, criada, deveria ser escrava, se fosse filha da primeira, não o sendo é legítimo pensar que as relações familiares, eventualmente pai / filha, fossem mais fortes.
O escravo tem apenas nome próprio e raramente apelido, ou ficam com o apelido dos donos, como quando os esclavagistas são donos de casais de escravos, que vão tendo filhos, alguns desses indivíduos adultos, (os pais), ficam com o apelido dos donos, que depois transmitem aos filhos, mesmo que continuem escravos ou tenham adquirido a liberdade. Por isso, diversos apelidos de esclavagistas surgem associados aos seus escravos, que se perpetuaram até hoje, o que significa que algumas dessas pessoas, orgulhosas da sua raça e do seu lusitanismo, poderão ser descendentes directos dessa população negra e escrava.
A propriedade dos escravos ser de um homem ou de uma mulher não é indiferente. Enquanto os escravos femininos propriedade de homens tem em geral filhos de pais incógnitos, já quando são propriedade de mulheres os pais são mencionados.
Conclusão
Não se pode considerar sociedade na península de Setúbal como esclavagista, porque o número de escravos não era suficientemente elevado nem eram economicamente relevantes.
Se podemos considerar que nas principais localidades chegou a ter alguma importância em termos numéricos, já nas freguesias mais pequenas foi nula, e nas de base essencialmente rural, de importância muito reduzida.
Também é perceptível que com o aproximar do final do século XVIII o número de escravos foi diminuindo e aumentando os homens e mulheres pretos e mulatos na condição de livres.
Nas freguesias onde consultei os registos de casamento e baptismo (não o fiz para as freguesias da cidade de Setúbal) não existem acentos de homens ou mulheres pretos ou mulatos. Não significa que não existam, simplesmente o padre não o refere.
Mas que estas pessoas casaram e tiveram filhos, percebe-se por referências indirectas, o que significa que muitos de nós somos seus descendentes.
O esclarecimento dessas situações exige uma análise individual, apesar de alguns apelidos serem muito suspeitos, porque são referidos e sabemos quais são. Mesmo casais de pretos ou mulatos, ou que um membro do casal o seja, inclusive com brancos, embora livres, eram filhos ou descendentes de escravos.
Este é apenas o início de um trabalho, cujo esclarecimento e aprofundamento das várias temáticas relacionadas, exigirá um estudo e uma investigação mais profunda com a consulta de outra documentação relacionada.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Terramoto de 1-11-1755 na Península de Setúbal


Terramoto de 1-11-1755
na Península de Setúbal
Introdução
O terramoto de 1 de novembro de 1755 foi catastrófico, sobretudo para a capital de Portugal, sendo mesmo vulgarmente conhecido, como, o terramoto de Lisboa.
É certo que foi na capital que os estragos foram maiores, e onde houve mais vítimas, tanto por ser a cidade mais populosa, como por ter sido particularmente atingida.
No entanto, muitas outras localidades sofreram com a calamidade, nomeadamente a península de Setúbal e em particular a sua principal cidade.
O registo de óbitos informa-nos sobre o número aproximado de vítimas, e dos estragos causados, tanto nos edifícios religiosos, como nos locais onde esses óbitos ocorreram.
A maioria das freguesias não faz referência ao acontecimento, por não ocorrerem mortes, apesar de outros documentos referirem alguns danos.
Consultei alguns artigos dispersos sobre o acontecido, e, apesar dos números em alguns casos não serem coincidentes, mantenho os dados que obtive.
Este trabalho refere-se apenas à informação contida nos livros paroquiais.
Assim, a relação é a seguinte:


Setúbal. São Julião.
Em o primeiro de Novembro de mil setecentos e cinquenta e cinco anos, dia que servirá de horror para os viventes, e admiração para os futuros houve nesta vila, um terramoto tão impetuoso que totalmente assolou ainda os edifícios  mais soberbos, perecendo nestes uma grande parte de gente deste povo, que por serem inumeráveis os defuntos não houve (nem era possível haver) lugar sagrado, em que pudessem ser sepultados; e maior dificuldade em individuar as pessoas, e seus nomes para lhes fazer acento neste livro e somente nele vão lançados alguns acentos de algumas pessoas, que por serem mais conhecidas houve notícia do seu óbito; e por evitar os inconvenientes para o futuro, e as consequências que podem nascer destas premissas fiz este termo
26 ruínas do colégio da Companhia de Jesus, incluí uma escrava, e uma cativa
 5 ruínas da igreja de S. Sebastião
3 ruínas da Senhora do Socorro
5 ruínas do convento de Brancanes
1 rua das Amoreira
3 no campo
1 debaixo das ruínas
4 levados pelo mar que saiu fora do seu curso natural
José que era ermitão da ermida de S. Brás está sepultado no adro da freguesia e nesta se achou vivo passados seis dias depois do dia do lastimoso estrago debaixo do entulho, que excedia a seis côvados.  e dando-se-lhe a absolvição, expirou. Ditosa alma ao que parece?
Setúbal. Graça
23 travessas e adro da igreja, pessoas que não se sepultaram na igreja, algumas identificadas pelos vestidos e outros sinais
Setubal. Anunciada
168 pessoas
Setúbal. São Sebastião
2 ruínas do colégio Companhia de Jesus
3 ruínas da Matriz da Anunciada
Seixal
23 pessoas
Barreiro
3 debaixo de umas paredes caídas… enterradas na mesma cova por causa de não haver lugar na igreja por causa de sua ruína
1 afogado
1 afogado no moinho da Verderena
1 debaixo das ruínas de uma chaminé
Monte da Caparica
5 pessoas na praia da Costa afogados com a inundação das águas
5 nas ruínas de uma parede na Sobreda
Coina
1 faleceu de uma desgraça do terramoto… sepultada no adro da igreja por estar caída e entulhada
Moita.
1 pessoa
Sesimbra. São Tiago.
16 pessoas
Azeitão. São Lourenço.
8 debaixo das ruínas do convento de São Domingos
Azeitão. São Simão.
6 sepultados no adro por se temer ruína.
2 na ruína que teve a igreja de São Domingos ficaram debaixo do entulho.
Palmela. São Pedro.
7 pessoas
Advirto aqui que todas as pessoas que aqui vão numeradas no dia segundo deste dito mês acabaram sem Sacramentos porque morreram, e ficaram debaixo das torres que estavam na frontaria da nossa igreja as quais caíram com aquele nunca vista terramoto que houve na manhã do primeiro dia do dito Novembro entre as nove e as dez horas com o qual ainda que não caíram, também ficaram arruinados o coro de cima, sacristia, e casas da fábrica e Irmandades por cuja razão mudei logo o Santíssimo para a Misericórdia que agora serve de freguesia, o mesmo terramoto quase arrasou, além da inumerável gente que matou, a Lisboa, Setúbal e muitas outras terras deste Reino, e por verdade fiz este que assinei dia mês e ano ut supra.
Prior Domingos Gaspar Luís Branco

Tal como diz no acento acima, no livro de batismos tem esta observação;
… no primeiro de Novembro do dito ano não quero deixar de advertir, que neste dia, que foi sábado, aconteceu aquele espantoso terramoto, que arruinou a sacristia, e casas da fábrica, e Irmandades da nossa igreja, e deixou em terra a frontaria, sinos, e as suas torres, debaixo das quais acabaram treze pessoas as suas vidas cujo terramoto arrasou quase totalmente as povoações de Lisboa e Setúbal, e fez perdas consideráveis em inúmeras terras assim do Alentejo como da Beira, deste mesmo caso faço menção no livro dos defuntos que de presente serve a folhas dezanove verso…
A diferença de números de mortos, entre os que eu contei e os que o prior afirma, deve-se,eventualmente, serem paroquianos de outras freguesias e serem nelas sepultados e registados. Como é o caso da freguesia de Santa Maria, que segue abaixo. Ainda assim não são precisos, nem os dois padres coincidem no número exato de vítimas.
No dia 11-12-1775, houve outro terramoto que o Prior de Palmela registou da seguinte forma:
Na madrugada deste dia depois das quatro horas sucedeu  um terrível terramoto semelhante ao outro de que fiz memória neste livro a folhas dezanove verso e no dos batismos, que de presente serve a folhas cento e cinquenta e seis verso e ainda que este segundo não produziu as fatalidades que fez o primeiro contudo ainda assustou mais as gentes por conta de um medonho ruído que lhe precedeu e por verdade fiz este que assinei dia, mês e ano ut supra.
Palmela. Santa Maria.
5 pessoas, todas debaixo das ruínas da igreja de S. Pedro
Em o primeiro dia do mês de Novembro de mil setecentos cinquenta e cinco houve um terramoto nesta terra em que caíram algumas casas e a torre das igrejas de S. Pedro em que matou dez ou doze pessoas e quase todas as casas desta povo se arruinaram.
Conclusão.
Pelos dados acima referidos torna-se evidente que os efeitos do terramoto se fizeram sentir de forma cruel em toda a península de Setúbal.
Sobretudo na cidade de Setúbal, as vítimas ultrapassaram seguramente as duas centenas, e os estragos foram enormes, que se fizeram sentir por várias décadas, e, como o próprio padre confirma, não foi feito o respectivo registo de óbito de muitas pessoas que faleceram nesse dia, pelo que, nos anos seguinte, o último dos quais vinte anos depois, bastantes pessoas solicitavam confirmação da morte de seus familiares.

domingo, 12 de agosto de 2018

Óbitos na península de Setúbal. Casos únicos


Óbitos na Península de Setúbal
Casos únicos
Nota breve
Depois de 1750, em toda a península de Setúbal, são alguns milhares os acentos de óbito. Morre-se em todas as situações e locais, todavia, alguns são únicos, pelas circunstâncias, mentalidade ou a própria forma como o registo é feito.
Sem qualquer pretensão científica, aqui deixo uma relação desses casos, que podem ser eventualmente úteis aos estudiosos.

São João Batista de Alcochete
1
Em os dezoito dias do mês de julho de mil sete
centos sincoenta e quatro faleceu sem sa
cramentos António Rodrigues solteiro fi
lho de João Rodrigues Trigueiro, por se achar
afocinhado em uma pouca de lama e água
no sítio das hortas termo desta vila es-
tá sepultado nesta matriz em cova da fá
brica dia, mês, era, ut supra.
O Reverendo Gaspar Simões
2
Em os onze dias do mês de Agosto de
mil setecentos sessenta e dois fale
ceu com o Sacramento da penitência
João de Almeida viúvo homem cego
que vivia dos fiéis de Deus a morte foi
porque caiu da barroca de Nª Srª da
Vida está sepultado pelo amor de
Deus na Ermida da dita Srª, era, ut,
Supra
O Reverendo Gaspar Simões
3
Em o último dia do mês de Dezem
bro de mil setecentos sessenta
e quatro faleceu com o Sacramento
da Santa Unção na cadeia desta
vila que se achava preso um
preto por ter fugido ao Senhor e não
se sabe o nome nem de quem era
está sepultado no adro desta
Matriz pelo amor de Deus era ut
Supra
O Prior Félix Soares da Silva
4
Em os vinte dias do mês de Fevereiro
de mil setecentos e sessenta e sin
co faleceu uma criança por nome
Maria que foi debaixo do manto filha
de Pedro José e de Hilária Maria
está sepultada nesta Matriz em cova da fá
brica era ut supra
O Prior Félix Soares da Silva
5
Aos vinte e sete dias do mês de Março de mil
setecentos noventa e cinco anos no semite
rio desta Igreja de S. João Batista Ma
triz desta vila de Alcochete Patriarcado
de Lisboa foi sepultado Joaquim do Rego
soldado o qual estava enterrado na ma
rinha de Atalaia que o tinham matado
casado Getrudes que por sobre nome não
perca morador em Lisboa de que fiz este
acento que assinei
O Prior Joaquim Rodrigues da Costa

6
Aos dezassete dias do mês de Outubro de
mil oitocentos e vinte e três faleceu Ma
nuel das Hortas casado com Maria Ro
sa desta Vila: não recebeu Sacramen
tos porque desgraçadamente caiu de
um pinheiro, distante desta Vila, e não
deu tempo, porque expirou, quase um
quarto de hora depois da queda; não fez
testamento, e no dia seguinte foi sepul-
tado nesta Igreja Matriz de São João
Baptista do que para constar fiz este
termo que assinei
O Prior Encomendado João José Pereira Pinto Maciel

7
Aos dezanove dias do mês de Setembro de mil oitocen
tos e vinte e seis faleceu Maria da Conceição mulher
de Manuel Ferreira desta Vila: não recebeu os Sa-
cramentos do costume, por me não chamarem a tem-
po, pois como se tinha confessado dois dias antes
o que repetidas vezes fazia na sua prolongada mo-
léstia, se persuadirão os da família que ou lhes bas-
taria aquela confissão, ou que sairia do ataque
como foi das outras vezes: não fez testamento, e foi
sepultada em Cova da Fábrica desta Igreja Ma-
triz: do que para constar fiz este termo que
assinei
O Prior futuro sucessor João José Pereira Pinto Maciel

8
No dia dois de Novembro de mil oito-
centos e trinta e dois faleceu uma menina a quem se não
pôs nome; por ser batizada ainda com parte do cor
po dentro da Mãe, pela parteira, filha de João Ba
ptista, e de Alexandrina do Carmo, e foi sepultada nesta
Matriz, e para constar fiz este termo assinei-
O Prior António Francisco Franco

9
No dia três de Novembro do ano de mil
oitocentos e trinta e quatro, nesta fregue
sai de S. João Baptista de Alcochete
faleceu Gonçalo Fragateiro, o qual
foi barbaramente morto dentro da cadeia
pela populaça em consequência de
ele ter matado um homem, e foi sepul
tado no cemitério desta Freguesia, e
para constar fiz este termo que assinei.
O Prior António Francisco Franco

10
No dia vinte e nove de Fevereiro do ano de mil
oitocentos e trinta e seis, nesta Freguesia
de S. João Baptista de Alcochete, faleceu
uma menina, batizada pela parteira
quando ainda se ignorava o sexo a que
pertencia, e por isso lhe não pôs nome,
filha de Manuel Loureiro, e de Maria
Angelina; foi sepultada no cemitério
desta Matriz; e para constar fiz este termo que
assinei.
O Prior António Francisco Franco

11
No dia vinte e nove de Março do ano
de mil oitocentos e trinta e seis nesta Fre-
guesia de S. João Batista de Alcochete
faleceu um menino batizado sem no-
me por ser batizado na ação do parto,
filha de Caetano Alberto, e de Maria da
Conceição; foi sepultado no cemitério
desta Matriz; e para constar fiz este termo
que assinei.
O Prior António Francisco Franco

12
No dia quatro de Abril do ano de mil
oitocentos e trinta e sete, nesta fre-
guesia de S. João Batista desta vi-
la de Alcochete, faleceu António Mar-
ques casado com Rita Maria, mora-
dores nesta freguesia, recebeu somente
o Sacramento da Extrema Unção em vir-
tude de o seu estado de letargia pro-
veniente de uma pancada que levou
na cabeça não lhe permitir receber os
demais Sacramentos do costume; foi se-
pultado no cemitério desta Matriz; e pa-
ra constar fiz este termo que assinei.
O Prior António Francisco Franco

13
No dia quatorze de Julho do ano
de mil oitocentos e trinta e oito nesta
freguesia de S. João Batista de Alco-
chete faleceu José dos Reis, mora-
dor no sítio das Rilvas aonde foi mor-
to de pancadas, e por tal motivo não re-
cebeu os Sacramentos do costume; foi
sepultado no cemitério desta Matriz
e para constar fiz este termo que
assinei.
O Prior António Francisco Franco

14
No dia trinta e um de Dezembro
do ano de mil oitocentos e quaren-
ta nesta freguesia de S. João
Batista desta vila de Alco-
chete faleceu afogado no Rio um
homem que pretendiam prender para
soldado; foi sepultado no cemitério
desta Matriz; não se fez menção nes-
te termo do nome do falecido por
se ignorar totalmente; e para cons-
tar fiz este termo que assinei.
O Prior António Francisco Franco

15
Aos dezoito dias do mês de Junho de mil oitocentos e cinquen-
ta, no Vale de Palmela, em direitura à Silha do Jacinto,
Distrito desta Freguesia de S. João Batista desta Vila de
Alcochete foi encontrado, morto com instrumento tundente,
um homem chamado Angélico, casado, natural da Vila
de Aldeiagalega, e foi sepultado no mesmo sítio. E para cons-
tar fiz este termo que assinei.
O Prior Manuel Teixeira Salgueiro


Santa Cruz do Barreiro
16
Aos trinta dias de Novembro de mil,
setecentos e cinquenta e dois nesta
Igreja de Santa Cruz Matriz da vila
do Barreiro do Patriarcado de Lisboa
foi sepultada em cova pequena, núme-
ro, vinte e quatro uma menina, a que
se não pôs nome, por ser batizada no
ventre de sua mãe, não se sabendo o sexo,
e sair dela já morta: e a dita meni
na filha de Feliciano da Silva pesca
dor, e de sua mulher Domingas Ma
ria dos Reis, fregueses desta Igreja
e moradores nesta vila, na qual fale
ceu aos vinte e nove dias do mês, e ano
declarado; e pela cova se deu
a esmola costumada de dois tostões: do
que fiz este acento, que assinei.
O Prior Inácio José de Oliveira

17
Aos vinte e oito dias do mês de Julho de mil
setecentos e cinquenta e quatro anos
nesta Igreja de Santa Cruz Matriz
da vila do Barreiro do Patriar-
cado de Lisboa, foi sepultado em
cova pequena, número um, Pe
dro menor, que nasceu de parto oculto,
e se estava criando em casa de Pedro
Esteves Costa desta vila; e nela fa
leceu o dito menino no dia, mês, e
ano declarado; e pela cova se deu
a esmola costumada de dois tostões:
de que fiz este acento, que assinei.
O Prior Inácio José de Oliveira

18
Aos seis dias do mês de Setembro
de mil, setecentos, cinquenta e
cinco anos, nesta Igreja da
Santa Cruz, Matriz da vila do
Barreiro do Patriarcado de
Lisboa foi sepultado em cova
grande comum o Padre Fran-
cisco de Araújo Pimenta e Cas-
tro Presbitero do hábito de S.
Pedro freguês desta Igreja e mo-
rador nesta vila, na qual faleceu
abintestado aos cinco dias do sobre-
dito mês, e ano, caindo de uma
janela abaixo para a parte de fora
das casas em que morava; e por ficar
quase morto se lhe não administrou
o Sagrado Viático, e se admi-
nistraram condicionalmente os
Santos Sacramentos da Penitencia
e Extrema Unção; e pela cova se deu
a esmola de cinco tostões: do que fiz
este acento, que assinei.
O Prior Inácio José de Oliveira

19
Aos dezoito dias de Outubro de mil sete
centos, cinquenta e sete, na Matriz des
ta vila do Barreiro foi sepultada
Maria da Silva viúva de Antó-
nio Barbosa Veloso, que vivia do
seu negócio; e ela moradora nesta
mesma vila em casa de Manuel
da Silva Guerra, na qual faleceu
no dia antecedente, abintestada
e sem Sacramentos por morrer
logo de uma queda que deu
de uma escada abaixo; e pela
cova se satisfez a esmola costuma-
da de cinco tostões: do que fiz este
acento que assinei.
O Prior Inácio José de Oliveira

20
Aos vinte e nove dias do mês de Outubro
de mil setecentos, sessenta e três anos,
nesta Igreja de Santa Cruz Matriz
da vila do Barreiro, foi sepultada
uma criança, cujo sexo se não soube
por ter corpo até à cintura somente
e como o parto era perigoso a bapti
zou a parteira Jacinta Teresa, es-
tando ainda viva no ventre de sua mãe
em um braço, que deitou de fora
pondo-lhe por nome Manuel, ou
Maria; e nesta vila faleceu no dia,
mês, e ano declarado; do que fiz este
acento que assinei.


21
Nesta vila do Barreiro é constan-
te, que em dez de Fevereiro de mil
setecentos, sessenta e seis morrera
queimado em um forno de cozer
pão em Paço darcos adiante de
Belém da cidade de Lisboa Domin-
gos Ribeiro pescador viúvo de
Páscoa Simoa, ou Páscoa Ma-
ria morador nesta mesma vila;
do que fiz este acento, que assinei.
O Prior Inácio José de Oliveira

Santa Margarida do Lavradio
22
Aos vinte e cinco dias do mês Julho de
mil setecentos e noventa e nove anos no adro
da Igreja Matriz de Santa Margarida da vila
do Lavradio junto à porta travessa se deu sepul
tura a uma mulher que se achou morta na Pra
ia da dita vila que se dizia tinha caído de
um barco de Palha junto com uma criança e que
também se diz ser mulher de um Alfaiate do que
fiz o presente termo que assino.
O Vigário da Vara
Joaquim José Rodrigues Vasconcelos

23
No convento de Nª Sª dos Pares dos
Religiosos Arrábidos em a primeira oi
tava da páscoa a 17 de Abril se achou
um cadáver, somente ossada
de um homem estrangeiro Itali
ano de nação de boa vida o que
exteriormente mostrava ser o seu
viver, era por modo de Monge prizi
tante, com vinte anos residente
junto ao mesmo Convento que os Religi
osos pelo amor de Deus lhe davam uma ca
sinha em que vivia e sustentavam pe
lo zelo que tinha tanto em servir
aos padres ajudando as missas e asseio
da Igreja em tudo o mais, dela; e faltan
do no dito Convento pelo descarço de
dois meses e meio abrindo-se a porta
da dita casinha acharam só a ossada
e a enterraram logo, fora junto à cruz à
entrada do Pátio do Convento no mesmo
dia, e lhe acharam alguns trastes de seu uso
cousa de pouco valor como também
algum dinheiro que não passaria a seis
mil e quatrocentos, que parece ser
de alguns Religiosos que davam a guar
dar para seu tabaco, fiz este acento
para constar se for necessário o que pode
suceder. Palhais em 22 de Abril de 1775
O Pároco Manuel Pinhão de Morais

24
Aos vinte e cinco dias de Junho de mil setecentos e no
venta e seis repentinamente morreu um homem preto chamado o pai
Ricardo e não pode receber alguns dos Santos Sacramentos está
Sepultado no adro desta matriz e não se soube de onde era
natural nem de quem era filho ele cumpria com os Sa
cramentos da Confissão e Comunhão anualmente e era assisten
te nesta freguesia do estado de solteiro e não se pode averi
guar mais alguma cousa de que fiz este acento que assinei dia
era mês e ano ut supra
O Reverendo José Pereira
(na margem: preto de nascença)

25
Aos vinte e um dias do mês de Abril
de mil oitocentos e sete anos nesta
Paroquial Igreja de Nossa Senhora da Gra-
ça deste lugar de Palhais se deu a sepul
tura ao corpo de Maurício José viúvo
o qual se achou morto dentro de uma
tulha que estava no moinho de El-
Rei foi achado no dia antecedente
de que fiz este termo dia mês era ut
supra
o Prior Bartolomeu de Oliveira

Nª Sª do Monte Sião da Amora
26
Aos vinte e oito dias do mês de Janeiro de mil
oitocentos e quarenta e quatro nesta Fregue
sai d’ Amora no sítio da Raposa faleceu
logo da queda da verga de um bote, e por isso
sem Sacramentos Tomás da Silva, casado
com Felicidade Perpétua, não tinha testa
mento deixou um filho e uma filha maio-
res jaz no Adro desta Igreja de que fiz este ter
mo que assinei. Era ut supra.
O Pároco António Joaquim Pereira Viana

Nª Sª da Consolação de Arrentela
27
Aos vinte e quatro dias do mês de julho de mil
sete centos e setenta anos se sepultou nesta Igre-
já Paroquial de Nossa Senhora da Consolação de Ar
rentela Patrício Manuel solteiro filho
de José Francisco e de Bernardina Maria mo-
radores em o lugar de Aldeia desta freguesia
o qual se achou e veio em uma rede de pescar
morto tendo caído de um barco de pesca do mar
ao largo da Roca havia oito dias antes de que fiz este
acento que assinei.
O Pároco Matias de Oliveira Brandão

28
Aos vinte e nove dias do mês de Novembro de mil setecen-
tos e oitenta anos faleceu da vida presente Manuel
Pereira casado com Ana Joaquina pescado, que susse
dendo cair ao mar fora da Barra do barco em que anda-
va de pescar de José Teixeira e a vista dos mais companhei-
ros Luís Feliciano, Francisco Lopes, João de Deus, An-
tónio Teixeira Lobo, António Guilherme, Francisco Real
todos deste lugar e freguesia de Nossa Senhora da Consolação
de Arrentela aonde o dito Francisco era morador, pereceu
entre as ondas e nelas se sumergio a vista dos referidos
ficando todos certos indubitavelmente do seu falecimento
do qual abri este acento aos vinte e cinco de Agosto de mil
setecentos e oitenta e um anos.
O Vigário Matias de Oliveira Brandão

29
Aos quatorze dias do mês de Dezembro de mil setecentos e oitenta
e um anos faleceu da vida presente com todos os Sacramentos
e sem testamento Luís António casado com Plácida Joaquina mo-
radores no lugar de Aldeia de Paio Pires desta freguesia de Nossa
Senhora da Consolação do dito lugar de Aldeia de Paio
Pires por não se achar gente por estar o tempo muito invernoso
para acompanharem e conduziram o corpo á sepultura a esta Ma
triz de que fiz este acento que assinei.
O Vigário Matias de Oliveira Brandão

30
Aos vinte e sete dias do mês de Setembro do ano de mil
oitocentos e três faleceu da vida presente sem receber os Santos Sacramentos
assombrado de um raio, um rapaz, cujos pais, e pátria se não sabe
com certeza, em uma vinha junto á quinta de S. João, distrito desta
Freguesia. Mostrava ter de idade dezoito anos pouco mais ou menos, ros-
to claro e redondo, cabelo liso e cortado á maruja. Ultimamente me disse-
ram que andava embarcado em o Ultramar donde viera á pouco tempo
que se chamava José, e que era natural de Bispado de Coimbra
jaz sepultado no Adro desta Igreja do que fiz este acento, que assinei.
O Pároco Jaime Pereira Vasconcelos

31
Aos cinco dias do mês de Novembro de mil de oitocen-
tos e dezasseis anos naufragaram da vida pre
sente, António Dantas casado com Isabel Maria
natural e morador nesta freguesia de Nossa Senho-
ra da Consolação deste lugar de Arrente-
la, como também José António Mira solteiro, na
tural e morador nesta freguesia de Arrentela, em
cujo dia também foram naufragados vinte e cinco
pessoas todos pescadores da freguesia do Seixal, e oi
tenta e tantos Ílhavos, de uma grande tempesta
de que se levantou no mar, o que nunca constou
de que fiz este acento, que assinei.
O Pároco José António Ribeiro e Silva
32
Aos dezoito dias do mês de Setembro de mil
e setecentos e oitenta e cinco se deu a sepultu-
ra no Adro desta Matriz de S. Lourenço de Azei-
tão Manuel Raimundo o qual faleceu
por desastre que lhe aconteceu caindo em
uma das minas da Fábrica desta terra
havendo outo dias que não aparecia: soltei-
ro filho de Manuel Pereira Alho, e Mar-
garida da Costa recebidos nesta Matriz e
para constar fiz este que assino.


32
Aos vinte e um dias do mês de Maio
de mil setecentos e oitenta e sete fa-
leceu sem Sacramentos por desastre
que lhe aconteceu de um coice de uma
mula que o privou da vida Miguel Nu-
nes viúvo de Eugénia Maria veio a se-
pultar nesta Matriz de S. Lourenço
de Azeitão de que fiz este dia e Era
ut supra


33
Aos vinte e cinco dias do mês de Ju-
lho de mil setecentos e oitenta e se-
te faleceu um rapaz chamado Ma-
nuel sem Sacramentos porque mo-
rreu debaixo de uma barroca
andando carregando areia o qual
era moço de Baltazar dos Reis
sepultou-se no Adro desta Fegue-
sai Matriz de S. Lourenço nesta
vila de Azeitão de que fiz este
acento dia e Era ut supra.

34
Aos seis dias do mês de Dezembro de mil e sete-
centos oitenta e oito faleceu com o Sacramen-
to da Confissão no hospital desta vila Noguei-
ra de Azeitão José natural de Alcanede de
idade de dezassete até dezoito anos morreu
esvaido de sangue da sangria veio a sepultar
no Adro desta freguesia de S. Lourenço de que fiz
este termo dia e Era ut supra.


35
Aos seis de Janeiro de mil oitocentos
e oito faleceu repentinamente em Coi-
na Velha um pobre que pedia pelas portas
cujo nome se ignorava faleceu à porta
de Pedro Alexandrino estando ao sol
jaz sepultado no Adro desta freguesia
de S. Lourenço de Azeitão de que fiz este
dia e era ut supra.


36
Aos vinte e cinco de Fevereiro de mil oitocentos e treze
por um Alvará do Desembargador Juiz dos Casamentos deste
Arcebispado em que manda faça acento do Óbito de José Joaquim
marido que foi de Inácia Rosa o qual faleceu na vila de Santa-
rem na entrada dos Franceses e por eles foi morto e para constar ojas-
to ficou naquele Juízo e por isso mandou lhe abrisse este acen-
to no mesmo dia mês e era supra.
O Cura D. Xavier Tranquilo Vaniceli Limpo

37
Em sete de Janeiro de mil oitocentos e vinte e nove nesta Matriz se deu a sepultura
no Adro Inácia Rosa sendo casada com Caetano Marques, faleceu sem Sacramen-
tos por se ter precipitado em um poço impelida de doudice do que para constar
fiz este termo dia e era ut supra.
O Prior Encomendado Luís Bernardo da Costa Vicente

38
Aos dez de Janeiro de mil oitocentos e trinta e quatro faleceu com
todos os Sacramentos no Hospital desta vila, José Joaquim, que dis-
se ser casado na terra, sem declarar aonde, nem nome da mulher,
era homem Maltez, vivia com outro companheiro chamado José Vala-
dor, no sítio da Ribeira distrito desta freguesia de S. Lourenço de Vila
Nogueira de Azeitão; foi sepultado no Adro da mesma, e para constar fiz este
que assinei, dia mês, era, ut supra.
O Prior Encomendado Domingos Gonçalves Veloso

Castelo de Sesimbra
39
Aos vinte e seis dias do mês de Setembro de mil setecen
tos e cinquenta anos faleceu com todos os Sa
cramentos Josefa Maria mulher que foi de Domingos Gomes
moradores na Aldeia da Serra a qual não fez testamento foi
sepultada nesta freguesia em cova da fábrica de que se pa
gou seis centos reis, de que fiz este acento que assinei.


No mesmo dia faleceu uma menina, filha dos ditos a
cima Domingos Gomes e Josefa Maria a qual foi batizada em
caso de necessidade por uma mulher casada com João
Rodrigues da mesma Aldeia da Serra, e foi sepultada
na mesma cova com a mãe por falecer no mesmo
dia de que fiz esta declaração que assinei. Nota;
a menina acima lhe puseram Maria.
Morais

No mesmo dia faleceu um menino por nome António
filho dos mesmos acima Domingos Gomes e de Josefa Maria
que este, e outro acima ambos foram sepultados na Co-
va da Mãe que no mesmo dia faleceu, de que fiz este
acento que assinei.
O Prior Encomendado Dionísio Gomes de Morais
Nª Sª da Graça de Corroios
40
Em o primeiro de Maio de mil setecen-
tos e oitenta e um nesta Igreja de Nossa Senhora
da Graça deste Patriarcado de Lisboa acompanhei
e fiz enterrar a José Rodrigues, solteiro, filho de
José da Silva e de sua mulher Maria Joaquina
recebeu só o Sacramento da Extrema Unção, e o da Peni-
tência sub condicione, por estar sem sentidos que
todos perdeu à primeira sangria, que lhe deram e
lhe sobreveio uma convulsão tão grande que em bre-
ve morreu no sítio do Carrasco em casa de seus pais, aí
moradores, e por verdade faço este assento, que
assino, era ut supra.
O Cura Francisco Carvalho

41
Aos nove dias do mês de Janeiro do ano de mil e sete-
centos e oitenta e quatro nesta Igreja de Nossa Senhora
da Graça do lugar de Corroios termo de vila de Almada
fiz enterrar a Quitéria Maria da Ascenção casada
com Manuel Marques; morreu de parto por não botar as der-
radeiras; nem lhe administrei os Sacramentos porque
me não chamaram, por ser de noite e a brevidade do tem-
po não dar mais lugar: e por verdade faço este acento
que assino era ut supra


42
Aos quinze dias do mês de Novembro do ano de
mil e setecentos e oitenta e quatro nesta freguesia de Nossa
Senhora da Graça do lugar de Corroios termo da vila
de Almada fiz enterrar a quatro inocentes, nascidos
de um parto sucessivamente um menino, e uma meni-
na, um menino e outra menina; filhos de Joaquim
Manuel e de Maria Joaquina meus fregueses, e moradores
no distrito de Santa Marta; a todos batizou logo a
parteira, e viverão pouco mais de uma hora depois de
batizados; e por verdade faço este acento que assi-
no era ut supra.
O Cura Francisco Carvalho

São Simão de Vila Fresca de Azeitão
43
Aos seis dias do mês de Fevereiro de mil
setecentos, e setenta e três anos, nesta
Matriz de S. Simão em Vila Fresca de Azei
tão dei sepultura eclesiástica a António
Marques morador no Brejo casado com Ana
de Jesus não recebeu Sacramento algum
por lhe passar uma carreta carregada por si-
ma da cabeça de que ficou logo morto, e
não tinha feito testamento de que fiz este
termo que assinei.
O Prior Manuel José da Costa

44
Aos onze dias de Setembro de mil sete-
centos, e setenta e quatro anos nesta Matriz
de S. Simão em Vila Fresca de Azeitão dei
sepultura eclesiástica a Vicência da Costa ca-
sada com Manuel Rodrigues, ausente, moradora
na quinta da Bacalhoa, não recebeu Sacramen
to algum porque a acharam moribunda, e vivia
só, e tinha tomado pólvora com vinho para e-
vitar sezoins, e não houve tempo para mais
nada do que chorarem-me, e imediatamente
expirar de que fiz este termo que assinei e Manuel da Encarnação
que presenciou.
Manuel da Encarnação
O Prior Manuel José da Silva

45
Aos seis dias do mês de Agosto de mil oitocentos, e sete faleceu nesta
Freguesia de S. Simão de Vila Fresca José Carapuça, maltes, ou vagabun-
do cujo estado, país, e naturalidade se ignora levou só o Sacramento da
Extrema Unção, e Confissão interpretativa por morrer de repente
de uma desgraça; no dia seguinte se sepultou na Igreja desta mesma
Freguesia em cova da Fábrica de que para constar fiz este termo
que assinei, em dia mês, e ano ut supra.
O Prior José Nunes da Silva Guadalupe

46
Aos seis dias do mês de Maio do ano de mil e oitocentos
e vinte e dois nesta Igreja de S. Simão de Vila Fresca de
Azeitão se deu sepultura eclesiástica ao corpo de Fran-
cisco = por alcunha o Navalhadas = ou Cadete, ou Flôr do-
Mundo, mendicante, de idade de setenta anos pouco mais
ou menos: Consta que teve a ocupação de moleiro, e foi sol-
dado do Regimento do Verde, morreu sem Sacramento por-
ser de repente; na Bogaria da Exmª Marqueza de Minas
em Camarate, sítio desta Freguesia; e para constar
fiz este termo no mesmo dia mês e era ut supra.
O Prior António Joaquim de Carvalho

Nossa Senhora da Conceição do Seixal
47
Aos três dias do mês de Janeiro de mil e setecentos se-
tenta e dois anos faleceu Amador de Jesus, homem preto, que
trabalhava no Arsenal Real do Cabo da Azinheira distrito
desta freguesia, morador na cidade de Lisboa na freguesia
de Santa Catarina, casado, e se não soube o nome de sua
mulher, faleceu sem Sacramentos, porque metendo-se no mar
por causa do Real Serviço, saiu dele interissado  e morto;
e veio a sepultar no Adro desta Igreja. De que fiz
este acento.
O Reitor Miguel Brabo Reimão

48
Aos vinte dias do mês de Abril de mil setecentos setenta
e dois anos se enterrou no Adro desta Igreja um pobre
mendicante, que outros pobres mataram no hospital desta
freguesia, cujo nome e naturalidade se não soube. De que
fiz este acento.


49
Aos dezassete dias do mês de Maio de mil setecentos setenta
e cinco anos faleceu um menino por mim batizado em casa
filho de Manuel Ferreira Panasco, e de Rosa Joaquina, que havia
nascido com mais dois do mesmo ventre a nove do presente mês
e veio a sepultar a esta Igreja. De que fiz este acento.


Aos vinte dias do mês de Maio de mil setecentos setenta
e cinco anos faleceu outro menino por mim batizado em ca-
sa por necessidade filho de Manuel Ferreira Panasco, e de
Rosa Joaquina, que havia nascido a nove do presente mês com
com mais dois do mesmo ventre, e fica sepultado nesta Igreja.
De que fiz este acento.


Aos trinta dias do mês de Maio de mil setecentos setenta
e cinco anos faleceu o terceiro menino a Manuel Ferreira
Panasco, e a Rosa Joaquina e veio a sepultar a esta Igreja.
De que fiz este acento.


50
Aos dezoito dias do mês de Junho de mil setecentos
setenta e seis anos se enterrou nesta Igreja um Ma-
rinheiro, que caindo do mastro de uma nau no rio de Coina
em cima do convés, ficou morto, chamado José Pereira
casado com Joana Teresa morador na
freguesia da Encarnação de Lisboa. De que fiz este acento.


51
Aos vinte e quatro dias do mês de Setembro de mil setecentos e oiten-
ta e sete anos faleceu, sem Sacramentos Luís de Figueiredo, solteiro, fi-
lho de Pedro de Figueiredo e de Joana de Oliveira, natural de Esgueira
por lhe cair um pau na cabeça, estando arpando um barco desta fre-
guesia, e logo morreu, veio a sepultar a esta Igreja. De que fiz este acento.


52
Aos vinte e cinco dias do mês de Junho
de mil oitocentos e oito faleceu de um
tiro de espingarda na Costa de Capa-
rica atirado pelos Ingleses José
Batista do Nascimento casado com
Ana Rita e veio a sepultar a es
ta freguesia de que fiz este acento.


53
Aos vinte e dois dias do mês de Ju
nho de mil oitocentos e nove fale
ceu com todos os Sacramentos passa-
do de uma bala de banda a banda
pelos Ingleses no rio de Lisboa Joaquim
Ribeiro casado com Cândida Ma-
ria, e veio a sepultar a esta freguesia
de que fiz este acento.
O Pároco Pedro António Gerardo


54
No dia sete de Outubro se deu à sepultura nesta
Igreja de Nª Sª da Conceição do Seixal Manuel de Oliveira Branco, solteiro, filho de José
da Silva Carlos já falecido, e de Teresa de Jesus, morreu
desgraçadamente debaixo da verga de uma embarcação, que
apenas recebeu a Unção, de que fiz este acento, que assinei.
Ano de mil oito centos e vinte e seis.


55
Aos vinte e cinco dias do mês de Novembro de mil
oitocentos e vinte e oito se deu a sepultura nesta
Igreja de Nossa Sª da Conceição do Seixal Maria
menor filha de Custódio Duarte e de Leonor dos
Anjos, de que fiz este acento.


Aos vinte e cinco dias do mês de Novembro de mil oito
centos e vinte e oito nesta Igreja de Nª Sª da Conceição
do Seixal se deu a sepultura Lucina menor filha de
José dos Anjos e de Narcisa Maria de que fiz este
acento.
O Reitor António do Espírito Santo

Na Margem: Estas duas crianças foram enterradas neste dia de manhã porque na segunda feira choveu de tal sorte, que não houve quem fosse à Igreja para as conduzir à sepultura.

56
Aos dez dias do mês de Maio de mil oitocen
tos e trinta e dois foi enterrado Francisco
da Cruz que tinha morrido afogado, e por
não estar capaz se sepultou no Quintal do
Canastra aonde eu mesmo benzi o lugar
para este fim, filho de Eusébio da Cruz, e
de Marcelina Tarquina todos moradores
na vila do Barreiro de que fiz este acen-
to era ut supra.
O Pároco José Joaquim Pereira

57
Aos oito dias do mês de Setembro de mil oitocentos quarenta e cinco faleceu de
repente sendo vítima de uma descarga de eletricidade em
ocasião que andava pescando na Costa da Caparica José de Oliveira solteiro
filho de Joaquim de Oliveira e Teresa de Jesus moradores nesta vila do
Seixal, e ao outro dia foi seu Corpo sepultado no cemitério desta freguesia. De
que fiz este acento que assino. Dia mês, e era ut supra.


58
Aos oito dias do mês de Setembro de mil oitocentos quarenta e cinco faleceu re-
pentinamente sendo vítima de uma descarga eléctrica  de um Raio em ocasião
que andava pescando na Costa da Caparica Roque de Almeida solteiro natural de
Buarcos, Concelho da Figueira Bispado de Coimbra, e ao outro dia foi seu Cor-
po sepultado no cemitério desta vila do Seixal. De que fiz este acento que assi-
no. Dia, mês, e era ut supra.
 O Pároco José Vaz Ribeiro de Almeida

59
S. Julião Setúbal
Em dois de Março de mil setecentos e sinco
enta e quatro, faleceu com todos os Sacramentos Se
bastião Ferreira solteiro: fez testamento pelo
qual institui nesta Matriz de S. Julião
uma Capela impondo ao Capelão obrigação
de choro; e está sepultado no Convento de S.
Francisco desta vila.
O Prior José António Monteiro Bravo.

60
Em vinte e quatro de Junho de mil setecentos
sessenta e oito se sepultou na Igreja de Nª
Sª do Socorro Francisco João casado
com Maria da Conceição morador no pa-
tio do Paço de El Rei, o qual faleceu sem
Sacramentos; porque vindo com outro com-
panheiro, também mariola, a pao e corda
pela ribeira caiu no chão logo morto:
de que fiz este termo.
O Prior Guilherme Inácio de Afonseca Lemos

61
Aos vinte e nove dias domes de No-
vembro de mil oitocentos e dezassete
me foi apresentado um Mandado do
Reverendo Desembargador Vigário Geral pelo
qual consta haver falecido Gonçalo José
de Campos e Sousa filho legítimo de Diogo
Xavier de campos e Sousa e de Dona Ma
ria Perpétua de Campos e Sousa Cadete
do Regimento número sete, andando
militando no Serviço da França, no Hospi-
tal militar da cidade de Tuluza em o dia
vinte e três de Agosto de mil oito centos e oi-
to, justificado por pessoas fidedignas e jul-
gado por sentença donde se extraiu o di-
to Mandado de que se fez este termo que
assinei.
O Prior José Pedro da Lança Cordeiro


62

Aos quatro dias do mês de Maio de mil oitocentos
trinta e seis, por um Mandado do Reverendíssimo Vi
gário Geral Manoel da Gama Xaro, se lavrou este Termo
do falecimento de João Vicente, casado que era com
Joana Rosa, ao qual os Rebeldes mataram na acção
que teve lugar em Alcácer do Sal no dia dois do mês
de Novembro do ano de mil oitocentos e trinta
e três, o que justificou, e foi julgado por sentença, de
que se fez este termo que assino.
O Prior José Francisco de Paula Peres e Gusmão
Servindo de Pároco

63
Aos seis dias do mês de Novembro de mil oitocentos trinta e quatro
faleceu em Alcácer do Sal na Acção que teve lugar entre o exército
Libertador, e o da Usurpação, Emídio José, casado com Maria
João, moradora na Praça da Ribeira, desta freguesia ignoran
do-se o Lugar da sua Sepultura, e isto em virtude de um
Mandado em forma do Reverendíssimo Vigário Geral deste Arcediagado,
José Maria Rolete, e para constar se fez este Termo
que assino: Setúbal, vinte de Maio de mil oitocentos
trinta e sete.
O Padre João Paulo Fortuna
Servindo de Prior
S. Lourenço de Alhos Vedros
64
Aos dois dias do mês de Junho, da presente era, de mil oitocentos e onze; no adro
desta Igreja Matriz e Freguesia de São Lourenço da vila de Alhos Vedros, deste Patriarcado de Lisboa
foi sepultada uma menina filha de Pedro Rodrigues, já defunto; e de Maria da
Silva: faleceu na fazenda do Guialheiro, termo desta vila; a qual menina, poucos dias depois
de nascida se pôs em total perigo de vida, que foi baptizada em casa e logo morreu, sem
lembrança de lhe porem nome: do que para constar fiz o presente termo, que assino.
O Prior Martiniano Gomes Pereira
65
Aos vinte e três dias do mês de Julho de mil oi-
tocentos e vinte se sepultaram nesta Igreja Francis-
co menor filho de Manuel Simões e de Leocádia, digo
Maria Leocádia – e Ana menor filha de Liberato
António e de Matilde Rosa de que fiz este acento
que assinei.
O Prior Marcos Pinto Soares

Sesimbra. São Tiago.
66
Aos dezassete dias do mês de Abril de mil setecentos e sessen
ta e quatro anos faleceu uma menina que por se não sa
ber se era macho ou fêmea se lhe pos Criatura de Deus fi
lha de Filipe José e de sua mulher Teresa Felisberta
moradores desta vila foi sepultada nesta freguesia em
cova da fábrica de uma lage de que pagou a esmola
costumada e para constar fiz este termo que assinei
dia, mês, ano ut supra.
67

 Aos nove dias do mês de Julho de mil setecen
tos sessenta e cinco anos faleceu Manuel
de Arouxe, casado com Ana Teresa, e mo
rador da vila de Setúbal, foi sepultado na
igreja da Misericórdia desta vila por pobre,
e não recebeu sacramento algum, por ser mor-
to pelos Mouros em uma lancha de Setúbal
à vista desta vila de Sesimbra o que para constar fiz
este termo, que assinei dia, mês e era ut supra.
O Prior Cláudio José da Silva Nogueira.

68
Aos sete dias
do mês de julho
de 777 estan
do na praia
??? um rapaz
por nome José
??????????
??????????
???? se mete-o
na borda da água
e vindo um
peixe arreba
tadamente o le
vou de que
fiz esta cla
reza por ser
caso novo
neste
sítio.
Castro.
69
Aos vinte e um dias do mês de Agosto de mil oitocentos
e três anos, faleceu José recém-nascido, o qual nasceu
a dezanove do dito mês, sendo batizado em casa
pela Parteira Esperança por nascer enfermo, e pela
mesma Parteira foi trazido para se lhe dar sepul-
tura por ser filho de Pais incógnitos: foi sepul-
tado nesta Paroquial Igreja de Sam Tiago em cova
da Fábrica, de que pagou a esmola costumada de
uma lage; e para constar fiz este acento, que
assinei dia, mês, e era, ut supra.
O Prior Sebastião José de Carvalho.

Moita
70
Aos oito de Dezembro de mil oitocentos e vinte um na
Igreja desta Freguesia da vila da Moita, foi sepultado
António Preguiça, solteiro, filho legítimo de José Domingues
Carvalheira, e de Rosa Maria, todos naturais de Cadima
Freguesia de Nª  Snrª do Ó, Bispado de Coimbra: não recebeu
Sacramento algum porque foi atacado de uma dor tão forte
que nos primeiros, remédios caseiros que lhe fizeram espirou; e não
podia ser socorrido com Sacramentos, porque assistia distante
desta Vila meia légua, de que fiz este acento que assinei.
O Pároco Encomendado João António Soares.
71
Aos vinte e cinco dias do mês de Agos-
to, do ano de mil oitocentos e oi-
oitenta; por uma hora da manhã,
em casa de sua mãe, na Rua
da Fábrica, desta Vila, digo, na
Rua do Cais, desta Vila e Fregue
sia da Moita do Riba Tejo,
Concelho e Arciprestado do
mesmo nome, Diocese de Lisboa,
faleceu um indivíduo do sexo
masculino, de onze meses de
idade, natural, digo, de onze di-
as, natural desta Fre-
guesia, filho adultérrimo de
Maria Rosa, casada, lavadei-
ra, natural e moradora nesta
Vila, e de pai incógnito. O
qual foi sepultado no cemi-
tério público. E, para constar
lavrei, em duplicado, este
termo que assino. Era ut supra.
O Prior Miguel de Pina Melo.
72
Aos vinte dias do mês de Fevereiro
do ano de mil oitocentos e oitenta
e três, por oito horas da noite em ca-
sa de seus pais, no sítio de Sam Se-
bastião, desta Freguesia da Moita
do Riba Tejo, Concelho e Arcipres
tado do mesmo nome, Diocese de Lis-
boa, faleceu, à nascença, um indiví-
duo do sexo feminino, de sete me
ses de vida uterina, filho legítimo
de João da Costa, marítimo, e de
Emília da Assunção, de ocupa
ção doméstica, naturais desta Fregue-
sia, aonde são paroquianos e mora
dores no dito sítio de Sam Sebastião.
O qual foi sepultado no cemitério
público. E para constar, lavrei, em
duplicado, este termo, que assino.
Era, ut supra.
O Prior Miguel de Pina Soares.
73
Aos quatro dias do mês de Março do na-
no de mil oitocentos e oitenta e nove, às
cinco horas da manhã em casa de seus
pais, na rua direita desta freguesia
de Nossa Senhora da Boa Viagem da
Moita do Ribatejo, Concelho e Ar-
ciprestado do mesmo nome, Diocese
de Lisboa, faleceu um indivíduo,
do sexo feminino, anónimo, de
idade trinta e quatro dias, natu-
ral e moradora nesta freguesia, fi-
lha legítima de Francisco Rodrigues
Soeiro, carpinteiro, e de Virgínia de
Jesus Costa, doméstica, ambos des-
ta freguesia, e foi sepultada no cemi
tério público. E para constar lavrei
em duplicado o presente acento que
assino. Era ut supra.

Sem efeito o presente termo por ter
sido informado em seguida ao ter sido
lavrado o mesmo que a criança não
tinha sido batizada. Era ut supra.
O Prior João José Libério da Costa