segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Inauguração da luz electrica em Alhos Vedros.


Inauguração da luz electrica em Alhos Vedros. 1928.     

 

O Diário de Notícias de 8-1-1928, dedica uma página à vila de Alhos Vedros, por ocasião da inauguração da luz electrica.

Nessa página, a par da introdução está uma entrevista ao representante de Alhos Vedros na Câmara Municipal, feita pelo correspondente local do Jornal. Seguem-se cinco artigos, de diferentes autores, sobre os vários aspetos da vida local. Um terço da página é ocupado por publicidade.

Alguns comentários.

Na introdução, o correspondente Joaquim Gonçalves, começa por considerar que o bom e laborioso povo de Alhos Vedros vê satisfeita a mais querida das suas aspirações, a luz electrica. Elogia a obra e a terra e atribui tão grande benefício a uma plêiada de homens de acção.

António Carvalho, Alfredo Guilherme e Francisco Estaca Júnior são o grupo de honra que conseguiu promover os melhoramentos, pelo que são hoje nomes respeitados e adorados.

Destaca também Sebastião Alves Dias, representante da freguesia na Câmara, alguém que tem sabido impor-se ao respeito e admiração de todos.

O que urge realizar é o título do artigo de Elói António Tadeu. Começa por dizer que não é de Alhos Vedros mas pugna pelos seus interesses e melhoramentos. Justifica com o manifesto que apresentou aos eleitores, já em 1922, vinha consignado a iluminação pública e particular.

Relembra que Alhos Vedros era iluminada a petróleo, mas podia-se orgulhar porque nestes arredores… até mesmo Alentejo e Algarve… não havia terra que a suplanta-se.

Não devem parar os melhoramentos. Propõe:

novo cemitério;

duas escolas, nas Arroteias e na Barracha Cheias, feminino e masculino; em Alhos Vedros, a masculina fica junto à casa da venda do peixe, e a feminina numa rua transversal que não prima pelo asseio. Não tem capacidade para receber todas as crianças e prova é que existem quatro colégios particulares.

O Posto Postal deve ser elevado a estação teléfono-postal ou telégrafo-postal, em atenção ao desenvolvimento industrial e ao progresso.

Reparação de várias estradas, ruas da estação e do cais dão a impressão que nunca houve caminhos a macadam.

Ruas transversais da vila calcetadas, em tempos de chuva são verdadeiros lagos.

Canalização de esgotos e outros preceitos higiénicos, os que tem são primitivos.

Casa de Registo Civil, para se efectuarem os actos com solenidade devida, a que existe deixa muito a desejar.

 

Ouvindo o representante da vila no Município, é o título da entrevista feita a Sebastião Alves Dias. Como introdução o autor elogia a terra e os melhoramentos feitos pelo entrevistado.

Esclarece o autarca que a obra custou mais de 400 contos, que compromete as finanças do Município.

Espera fazer no ano de 1928 o calcetamento da travessa da Misericórdia e um mercado municipal.

Quanto às obras realizadas, já tinha obtido da Junta Geral do Distrito verba para o alargamento e limpeza do esteiro e da cala. Concluiu alguns calcetamentos. Criou o mercado ao ar livre. Actualizou impostos sobre o vinho e mais produtos. Fez cumprir posturas municipais.

Quanto ao cemitério, espera por subsídio.

Quanto à escola, está a cargo de um benemérito.

 

Jaime Saturnino Cardoso assina o artigo, Alhos Vedros associativo. Afirma que existem quatro colectividades com fins diferentes.

A Sociedade Filarmónica Recreio e Entusiasmo, a mais antiga e tem uma filarmónica com quatro dezenas de executantes.

O Clube Recreio e Instrução, tem uma óptima biblioteca. Organiza agradáveis festas.

Cooperativa Operária de Crédito e Consumo, esforçada defensora do cooperativismo, modelo de sacrifício.

União Sporting Clube, único clube desportivo na terra, apesar de terem existido outros, que tiveram sempre o mesmo fim. Os longos trabalhos para erguer o clube, devem-se aos directores em especial ao presidente José Maria dos Santos. Fundado em 1-6-1927, tem já campo de jogos. Tem perto de duas centenas de associados, quatro categorias de futebol adulto e duas de infantis, nadadores, pedestrianistas, e mais praticantes de outros desportos. Graças a este clube Alhos Vedros é o centro desportivo do concelho.

 

Terra industrial agrícola e ferroviária é o título do artigo de Manuel Lopes Falcão. Num fraseado romântico fala das suas vivências, bom povo, da situação geográfica e do bom clima. Não tem casas ricas com o cunho da nobreza, antes são modestas, limpas, higiénicas, alegres, lavadas pelo sol.

Os arredores são férteis e povoados por gente que vive do amanho das terras.

No campo toda a gente dorme de luz acesa para evitar os ladrões.

Conclui, pedindo a chorar, para arranjarem a estrada para o Barreiro.

 

Alhos Vedros industrial, é o artigo de José Custódio Cabrita. Alhos Vedros é uma vila próspera. Tem dezoito fábricas de cortiça, com uma população operária superior a mil pessoas de ambos os sexos, que vai vitalizar o comércio local.

Tem duas fábricas de velas de estearina.

Tem uma boa fábrica de cal.

Tem uma produção enorme de sal, que exporta para o país e estrangeiro.

Paga copiosa soma de contribuições e impostos. Só do ano de 1926, o Município recebeu de reembolso 70 contos.

A vila é esquecida do poder central. Necessita de estação telégrafo-postal. Porto marítimo carece ser desassoreado e o cais alargado, com estes melhoramentos e montando um guindaste o município obteria uma boa receita.

 

Um terço da página é publicidade. São 29 os anunciantes, todos de Alhos Vedros.

14 anúncios a fábricas de cortiça, que oferecem, cortiça em prancha, quadros, rolhas, aparas prensadas, rolhas especiais para farmácias e boias para cercos de pesca.

5 mercearias, que anunciam vender pão, vinho, tabaco, fanqueiro, louças, cereais, legumes, sementes, ferragens, tintas, gás, batata de consumo francesa, farinha, sêmeas e palha.

2 vendas de velas.

1 carvoaria.

1 produtor e exportador de sal.

1 estância de madeiras.

1 seguros.

1 salsicharia.

1 padaria.

1 venda de cereais.

1 venda de barris de cal.

 

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