quinta-feira, 14 de março de 2013

Temporais na Moita em 1876.


Temporais na Moita em 1876.

 

O inverno de 1876 foi rigoroso em todo o país e também na nossa região, com temporais, chuvas intensas e cheias.

A água no Tejo subiu a níveis históricos registados em diversas povoações ribeirinhas.

O concelho da Moita não poderia, obviamente, ter escapado ileso aos acontecimentos e isso é reflectido nas decisões da Câmara.

Assim sabemos que em 5 de Dezembro de 1876 foi deliberado que “tendo as grandes mãos d’ água causado nas estradas e na vila poderosas e perigosas cheias,…, era preciso e até urgente conservar gente em exercício permanente para desentulhar valetas e cortar as águas,…, e evitar assim desabamento de algumas casas mal construídas”.

Uma semana depois é necessário reparar com urgência as estradas, porque estavam perigosas e intransitáveis, devido às “chuvas dos últimos dias”, para isso foi autorizado retirar as verbas necessárias do “cofre da viação”.

As consequências deste inverno começaram a revelar-se posteriormente. Logo em Fevereiro de 1877 a Câmara regista que a chuva arrastou areias que cobriram a praça do Pelourinho e o largo do poço do concelho, toda a zona “ao longo da praia contígua ao esteiro” e destruiu o aterro do porto novo.

Em Março, inicia-se o balanço dos estragos provocados pelos temporais e cheias. Na Moita contabiliza-se 62 casas danificadas e em Alhos Vedros 45, cujos estragos foram avaliados em 2.246.380 reis e 1.437.060 reis respectivamente. Parece que o temporal passou ao lado de Sarilhos Pequenos e do Rosário, pois nestas povoações não foi registado qualquer estrago.

Salvador José Castanho também declara prejuízos avultados na sua propriedade da Fonte da Prata.

Em Abril são os proprietários das faluas, barcos e fragatas a pedir que “areia no cais fosse desentulhada,…, grandes quantidades ali acarretadas pelas cheias de inverno”. Câmara decide incluir no orçamento para o biénio de 1877 / 78, a quantia de 100.000 reis para “efectuar o desentulhamento”.

O mesmo aconteceu com a caldeira do rio da Moita, “que ficou bastante entulhada, impossibilitando os barcos de chegar ao cais”.

O arrematante da estrada da Broega a S. Sebastião, (então em construção), pede para ser indemnizado, em virtude do excesso de trabalho feito e porque os aterros, por falta de viadutos construídos a tempo, estavam muito destruídos e “mais alterações que se podem facilmente reconhecer e avaliar para decidir”. Um mês depois o empreiteiro desta obra volta a insistir para que “fosse abonada cifra pelo excesso de trabalhos,…, estragos das cheias”.

Igualmente as canalizações da mãe d’ água que conduzem a água ao chafariz ficaram entupidas, decidindo a Câmara incluir “no próximo orçamento” verbas necessárias para fazer a limpeza.

Também é referida a petição de José Pinheiro, que pede 100.000 reis, porque, “a fazenda que possui nos Brejos da Moita,…, foi completamente aniquilada pelas cheias e temporais”. A Câmara aceitou “devido às informações”.

O mau tempo fez-se sentir um pouco por todo o país, com avultados prejuízos, que levou à criação de uma comissão central de socorro e apoio às vítimas dos temporais, presidida pela própria rainha.

Sabemos que na Moita o prazo para que as vítimas dos temporais reclamassem apoio terminou a 26 de Junho de e que essas reclamações foram apreciadas a 9 de Julho e que a 13 foram divulgadas as reclamações aceites.

Decerto que houve mais estragos do que os atrás referidos, basta verificar que no domínio público parece que apenas a Moita foi afectada e nos particulares em largas não houve pedidos de apoio, o que se estranha.

Mas isto é o que é possível, de momento, dizer sobre o assunto, mas estou certo que alguém, no futuro, o esclarecerá melhor pois existe documentação para isso.

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