quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Caramelos na freguesia de Sarilhos Grandes

Caramelos na freguesia de Sarilhos Grandes
No início do século XIX Sarilhos Grandes seria um pequeno lugarejo com diminuta população.
A vida religiosa não passava de três ou quatro casamentos por ano e os baptizados pouco mais.
Depois da segunda década desse século a freguesia vai ser invadida por pessoas, que alguns erradamente chamam de caramelos e os casamentos e baptizados aumentam dez vezes mais. Trata-se de uma autêntica invasão e a população da freguesia aumenta de forma exponencial.
Estas pessoas irão povoar as diversas quintas e regiões até aí abandonadas, tais como, Malpique, Ponte dos Cavalos, Esteval, Lagoa do Calvo, Quinta Nova, Broega, Abreu ou Pocariça.
Inclusive aqui se casam baptizam ou são sepultadas da vizinha freguesia de Palmela, mas que ficam mais próximas de Sarilhos Grandes do que da sua própria freguesia, como seja o Penteado, a Fonte da Vaca e a Carregueira.
As razões para esta “invasão” são as que já referi relativamente às freguesias de Alhos Vedros e da Moita. Ou seja, a situação de guerra permanente em que a sua região de origem esteve envolvida toda a primeira metade do século, e consequentes atrocidades de que eram vítimas.
A vida destas pessoas é semelhante à das referidas freguesias vizinhas de Alhos Vedros e da Moita. Pobreza e dificuldades assente numa economia agrícola de subsistência. Isto revela-se quanto as pessoas se casam ou baptizam e não pagam as respectivas taxas por serem pobres, como é referido nos documentos. Da mesma forma quando morrem e são sepultados no adro da igreja por não terem forma de pagar para serem enterrados no interior.
Esta situação só se altera no decorrer da segunda metade do século, devido à evolução das técnicas agrícolas, que permitirá alguns excedentes para comercializar, e, também, pelo aumento da população da freguesia que permitirá o surgimento de outras profissões.
Assim, se antes de 1850 esta população era basicamente composta por trabalhadores, jornaleiros e fazendeiros, na segunda metade, em especial no final do século, proprietários, ligados à actividade agrícola, mas ainda lojistas, alfaiates, sapateiros, barbeiros, negociantes, vendilhões, padeiros, quinquilheiros ou professores.
Simultaneamente mantêm-se outras que já vinham de séculos anteriores mas em número reduzido e não parece terem aumentado, como seja pescador (muito poucos casos) ou moleiros, assim como as profissões ligadas às actividades marítimas, que estranhamente não tinham peso significativo na freguesia.

Quadro de origem dessa população
de 1800  a 1850
homens
mulheres
Mira
54
51
Tocha
21
16
Arazede
32
24
Cadima
25
11
Liceia
8
4
Quiaios
5
4
Cantanhede
8
3
Alhadas
8
2
Coimbra
9
2
Ferreira
4
6
Aveiro
10
5
Lamego
4
1
Viseu
16
3
Arouca
2
1
total
206
133
além destes é referido ainda com uma ou
duas pessoas, diversas localidades como,
Febres, Esgueira, Águeda, Figueira da Foz,
Tavarede, Redinha, Vila Nova de Anços,
Pinhel, Leiria, Porto, Valença e Bragança.
de 1851 a 1910
Mira
21
20
Tocha
5
1
Arazede
3
3
Cadima
6
5
Liceia
3
1
Quiaios
7
5
Cantanhede
3
1
Alhadas
3
0
Coimbra
1
1
Ferreira
3
1
Aveiro
12
1
Lamego
1
1
Viseu
12
2
total
80
42
além destes é referido ainda com uma ou
duas pessoas, diversas localidades como,
Quintã, Monte Mor o Velho, Vagos, Porto,
Fuste, Tondela, Penela, Figueiró dos Vinhos,
Folques, Soure, Arganil e Leiria.

Dados obtidos pelo cruzamento das informações inseridas nos livros de baptismo e de casamento.
Os números não devem ser considerados absolutos, antes como amostragem, quase total, da população da freguesia considerada.
Para além das dificuldades próprias da documentação, as dificuldades em identificar as pessoas. Casos de viuvez em que as pessoas casam várias vezes, pais e filhos com o mesmo nome onde os sobrinhos são mais velhos que os tios, indivíduo tem filhos de duas irmãs, indivíduos com o mesmo nome mas sem qualquer parentesco, outros ora nasceram aqui ora ali, ou são órfãos sem graus de parentesco, outros com o tempo adquirem alcunhas e são assim tratados, aparece de tudo. É difícil destrinçar quem é, ou não, originário de uma região concreta. Apesar disso considero que a margem de erro do quadro é reduzida.
Característica diversa da verificada na Moita ou em Alhos Vedros é o significativo número de casais que aqui se estabelecem, apesar da maioria vir ainda solteiro.

Para finalizar aqui deixo, a quem possa interessar, uma relação de apelidos de pessoas que nesta freguesia viveram, muitos começaram por ser alcunhas mas que ainda hoje existem, entre os quais alguns amigos, alguns surgem na relação já divulgada neste blogue outros não.
Algarvio, Manhoso, Caturra, Traquina, Fulgêncio, Lourizela, Carvalheira, Pagaio, Coxo, Coxa, Bicha, Regula, Pinho, Azanha, Viola, Padelo, Marinheiro, Espalha, Carregosa, Abraão, Zabelo, Salgueiro, Brado, Carradas, Seixo, Grilo, Sobrinho, Moiro, Nora, Barreto, Russo, Charnequinha, Póvoas, Esperança, Quinteiro, Talhadas, Amieiro, Tábuas, Garrano, Barrulho, Vespeira, Campante, Balceiro, Patego, Vareiro, Caçoete, Valeira, Baiões, Prata, Mingatos, Roque, Serrano, Ismael, Bandolim, Chula, Aguadeiro, Botas, Manso, Pretinho, Alegria, Brinca, Pagaio, Pagaime, Braziel, Mosca, Moedas, Sacoto, Casaca e Carromeu.

Este trabalho deve ser considerado no conjunto das freguesias da Moita e de Alhos Vedros. As opiniões gerais que aí expressei aplicam-se também a Sarilhos Grandes.

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