segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Terramoto de 1-11-1755 na Península de Setúbal


Terramoto de 1-11-1755
na Península de Setúbal
Introdução
O terramoto de 1 de novembro de 1755 foi catastrófico, sobretudo para a capital de Portugal, sendo mesmo vulgarmente conhecido, como, o terramoto de Lisboa.
É certo que foi na capital que os estragos foram maiores, e onde houve mais vítimas, tanto por ser a cidade mais populosa, como por ter sido particularmente atingida.
No entanto, muitas outras localidades sofreram com a calamidade, nomeadamente a península de Setúbal e em particular a sua principal cidade.
O registo de óbitos informa-nos sobre o número aproximado de vítimas, e dos estragos causados, tanto nos edifícios religiosos, como nos locais onde esses óbitos ocorreram.
A maioria das freguesias não faz referência ao acontecimento, por não ocorrerem mortes, apesar de outros documentos referirem alguns danos.
Consultei alguns artigos dispersos sobre o acontecido, e, apesar dos números em alguns casos não serem coincidentes, mantenho os dados que obtive.
Este trabalho refere-se apenas à informação contida nos livros paroquiais.
Assim, a relação é a seguinte:


Setúbal. São Julião.
Em o primeiro de Novembro de mil setecentos e cinquenta e cinco anos, dia que servirá de horror para os viventes, e admiração para os futuros houve nesta vila, um terramoto tão impetuoso que totalmente assolou ainda os edifícios  mais soberbos, perecendo nestes uma grande parte de gente deste povo, que por serem inumeráveis os defuntos não houve (nem era possível haver) lugar sagrado, em que pudessem ser sepultados; e maior dificuldade em individuar as pessoas, e seus nomes para lhes fazer acento neste livro e somente nele vão lançados alguns acentos de algumas pessoas, que por serem mais conhecidas houve notícia do seu óbito; e por evitar os inconvenientes para o futuro, e as consequências que podem nascer destas premissas fiz este termo
26 ruínas do colégio da Companhia de Jesus, incluí uma escrava, e uma cativa
 5 ruínas da igreja de S. Sebastião
3 ruínas da Senhora do Socorro
5 ruínas do convento de Brancanes
1 rua das Amoreira
3 no campo
1 debaixo das ruínas
4 levados pelo mar que saiu fora do seu curso natural
José que era ermitão da ermida de S. Brás está sepultado no adro da freguesia e nesta se achou vivo passados seis dias depois do dia do lastimoso estrago debaixo do entulho, que excedia a seis côvados.  e dando-se-lhe a absolvição, expirou. Ditosa alma ao que parece?
Setúbal. Graça
23 travessas e adro da igreja, pessoas que não se sepultaram na igreja, algumas identificadas pelos vestidos e outros sinais
Setubal. Anunciada
168 pessoas
Setúbal. São Sebastião
2 ruínas do colégio Companhia de Jesus
3 ruínas da Matriz da Anunciada
Seixal
23 pessoas
Barreiro
3 debaixo de umas paredes caídas… enterradas na mesma cova por causa de não haver lugar na igreja por causa de sua ruína
1 afogado
1 afogado no moinho da Verderena
1 debaixo das ruínas de uma chaminé
Monte da Caparica
5 pessoas na praia da Costa afogados com a inundação das águas
5 nas ruínas de uma parede na Sobreda
Coina
1 faleceu de uma desgraça do terramoto… sepultada no adro da igreja por estar caída e entulhada
Moita.
1 pessoa
Sesimbra. São Tiago.
16 pessoas
Azeitão. São Lourenço.
8 debaixo das ruínas do convento de São Domingos
Azeitão. São Simão.
6 sepultados no adro por se temer ruína.
2 na ruína que teve a igreja de São Domingos ficaram debaixo do entulho.
Palmela. São Pedro.
7 pessoas
Advirto aqui que todas as pessoas que aqui vão numeradas no dia segundo deste dito mês acabaram sem Sacramentos porque morreram, e ficaram debaixo das torres que estavam na frontaria da nossa igreja as quais caíram com aquele nunca vista terramoto que houve na manhã do primeiro dia do dito Novembro entre as nove e as dez horas com o qual ainda que não caíram, também ficaram arruinados o coro de cima, sacristia, e casas da fábrica e Irmandades por cuja razão mudei logo o Santíssimo para a Misericórdia que agora serve de freguesia, o mesmo terramoto quase arrasou, além da inumerável gente que matou, a Lisboa, Setúbal e muitas outras terras deste Reino, e por verdade fiz este que assinei dia mês e ano ut supra.
Prior Domingos Gaspar Luís Branco

Tal como diz no acento acima, no livro de batismos tem esta observação;
… no primeiro de Novembro do dito ano não quero deixar de advertir, que neste dia, que foi sábado, aconteceu aquele espantoso terramoto, que arruinou a sacristia, e casas da fábrica, e Irmandades da nossa igreja, e deixou em terra a frontaria, sinos, e as suas torres, debaixo das quais acabaram treze pessoas as suas vidas cujo terramoto arrasou quase totalmente as povoações de Lisboa e Setúbal, e fez perdas consideráveis em inúmeras terras assim do Alentejo como da Beira, deste mesmo caso faço menção no livro dos defuntos que de presente serve a folhas dezanove verso…
A diferença de números de mortos, entre os que eu contei e os que o prior afirma, deve-se,eventualmente, serem paroquianos de outras freguesias e serem nelas sepultados e registados. Como é o caso da freguesia de Santa Maria, que segue abaixo. Ainda assim não são precisos, nem os dois padres coincidem no número exato de vítimas.
No dia 11-12-1775, houve outro terramoto que o Prior de Palmela registou da seguinte forma:
Na madrugada deste dia depois das quatro horas sucedeu  um terrível terramoto semelhante ao outro de que fiz memória neste livro a folhas dezanove verso e no dos batismos, que de presente serve a folhas cento e cinquenta e seis verso e ainda que este segundo não produziu as fatalidades que fez o primeiro contudo ainda assustou mais as gentes por conta de um medonho ruído que lhe precedeu e por verdade fiz este que assinei dia, mês e ano ut supra.
Palmela. Santa Maria.
5 pessoas, todas debaixo das ruínas da igreja de S. Pedro
Em o primeiro dia do mês de Novembro de mil setecentos cinquenta e cinco houve um terramoto nesta terra em que caíram algumas casas e a torre das igrejas de S. Pedro em que matou dez ou doze pessoas e quase todas as casas desta povo se arruinaram.
Conclusão.
Pelos dados acima referidos torna-se evidente que os efeitos do terramoto se fizeram sentir de forma cruel em toda a península de Setúbal.
Sobretudo na cidade de Setúbal, as vítimas ultrapassaram seguramente as duas centenas, e os estragos foram enormes, que se fizeram sentir por várias décadas, e, como o próprio padre confirma, não foi feito o respectivo registo de óbito de muitas pessoas que faleceram nesse dia, pelo que, nos anos seguinte, o último dos quais vinte anos depois, bastantes pessoas solicitavam confirmação da morte de seus familiares.

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