quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A vida nos anos trinta. Alhos Vedros.


A vida nos anos trinta. Alhos Vedros.

Na década de trinta, Alhos Vedros era uma pequena vila, onde todos se conheciam e os acontecimentos eram vividos de forma intensa. Os conflitos laborais nas fábricas do Barreiro e consequentes prisões e exílios atingiam vários alhosvedrenses que ali trabalhavam.
Em 1936 Eláudio Tarouca, assassinou com dois tiros, Sousa Correia, dono da fábrica de cortiça “corchera”. Foi também a época em que as fábricas ardiam com frequência invulgar. O comércio local era diminuto. Tinha algumas lojas e mercearias, sendo a mais conhecida a do Ti Viegas, que vendia de tudo e também bacalhau fiado, depois de molhado, mas onde a água e o sabão não entravam.
Havia várias tabernas sendo as mais conhecidas a do Malagueta e a do Papa Ratos, onde se bebia bom vinho, com água quanto baste e o martelo ainda era proibido, e se jogava às cartas que, muitas vezes, acabava em desordem. Havia ainda quatro padarias, sendo a mais afamada a do senhor João Pinto, frente ao coreto, três sapateiros, a agência de seguros do senhor Pingocho e a farmácia do senhor Ezequiel.
Nas duas colectividades existentes, a Velhinha e o Cri, organizavam-se bailes abrilhantados por Virgílio Pereira e respectivos filhos, bastantes para formar uma orquestra. Realizavam-se também sessões teatrais, sempre com os mesmos actores, ou seja, o Paixão, os irmãos Gameiro e o cómico Valverde. Os papéis femininos eram todos desempenhados por Elvira Guedes, de Lisboa, pois as mulheres da terra não se atreviam a subir ao palco. O que se dizia da Elvira no rio dos Paus, onde se lavava a roupa suja e a outra, e nas tabernas, chegava para dissuadir as mais corajosas.
Naquele ano, coube à Velhinha organizar as festas, que não incluíam programa religioso, pois, desde 1910, não se celebrava o culto na igreja. O carnaval passa com os tradicionais banhos de água aos desprevenidos, atirados de portas, janelas e esquinas, e com carroças metidas em charcos, marinhas e viveiros, pela calada da noite, causando aos donos vários embaraços para as retirar.
Inaugurou-se o Asilo da Misericórdia, e pouco depois, a maternidade, obtida pelo trabalho de várias senhoras que organizaram sorteios, festas, recolhas de donativos, etc. Inaugurou-se também a estação de telefone e telégrafo.
Clubes de futebol existiam inicialmente dois, o Graça e o Internacional, depois surgiu o União Sporting. As sedes eram simples barracas onde as direcções faziam as reuniões, que, por vezes, acabavam com uma paulada no gasómetro a carboreto, e onde os jogadores pagavam uma quota mensal para poderem jogar.
Até então o campo de jogos era o largo da Graça, pouco apropriado pois tinha duas oliveiras a servir de balizas e um poço a avançado centro. Havia, no largo do Mercado, um outro campo impróprio para o jogo, por ser inclinado, não ter área suficiente e num dos lados ter um muro que os jogadores utilizavam para fintar os adversários.
É neste contexto que a Junta de Freguesia e o União Sporting decidiram construir o parque desportivo da Bela Rosa, inaugurado em 1936. O jogo de inauguração foi entre o clube local e “Os Leões do Barreiro”.

Jornal O Rio. Março de 1998.

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