quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O que trouxe o ano de 1898.


O que trouxe o ano de 1898.

O facto mais importante do ano de 1898 para a Moita foi a definitiva elevação a sede de concelho. Logo em Janeiro foi empossada a nova Câmara respectivos pelouros: Presidente Manuel Maria Antas Barbosa; contencioso, beneficência e secretaria. Vereadores: José Filipe Guerreiro; cais e porto, António José da Costa; matadouro e viação, Manuel Dias de Almeida; limpeza e iluminação, Francisco Tavares; serviços municipais em Alhos Vedros.
Nessa primeira reunião foi aprovado enviar ao ministro do Reino o reconhecimento da Câmara por ter cumprido lealmente a promessa. Enviar a António Isidro de Sousa um voto de profunda gratidão por tanto ter pugnado pela nossa Câmara. Enviar a Câmara de Alcochete um ofício de congratulação por o mesmo se terem livrado da tutela de estranhos. Agradecer ao povo por se ter associado aos festejos realizados. As reuniões seguintes serviram para organizar os serviços administrativos, admitir funcionários e nomear comissões que garantissem as suas competências, como o recrutamento militar e o recenseamento eleitoral. Outro assunto foi efectuar junto das câmaras a que as duas Juntas de Freguesia pertenciam, a separação de competências e encargos como os contratos municipais em vigor de arrematação de impostos e das adjudicações de limpeza e de iluminação.
Outras questões foram tratadas nesse ano. Comemorou-se a Viagem de Vasco da Gama, com iluminações no Paço do Concelho e convites aa população e aas bandas filarmónicas para participarem nas demonstrações de regozijo que a Comissão Central decidisse efectuar na Moita. Proibiu que a porta da caldeira fosse fechada sem licença, normalmente só era autorizada para a realização de touradas. Autorizou a aquisição de material escolar para as escolas do concelho, bem longe, todavia, das solicitações feitas pelos professores. Obrigou os donos dos jazigos a limpa-los e a cumprir a norma de remover os cadáveres após cinco anos. Significativos foram os subsídios aas viúvas para aleitação dos filhos, pois não tinham com que os alimentar devido aa extrema pobreza. Determinou que o cidadão para ser eleitor tinha de saber ler e escrever, ou pagar de imposto no mínimo 1 000 reis anualmente. As obras públicas ficaram-se por alguns reparos nos Paços do Concelho, num muro da estrada do Rosário e nas obras de arte da estraga de Sarilhos.
Foram aprovados os impostos indirectos sobre o comércio incluindo os bens de primeira necessidade, abrangia desde o sabão e o petróleo ate ao vinho e ao pão e foi estabelecida a tarifa diária dos serviços de viação municipal, pelo modo seguinte: carros de vacas ou bois, 800 reis; carruagens e carretas, 1 000 reis; animal de carga ou tiro, maior ou menor, 500 e 240 reis respectivamente, trabalho pessoal 200 reis, por dia.
Em Alhos Vedros o ano foi terrivelmente mau. A vila foi atacada por uma epidemia de varíola que matou dezenas de pessoas, sobretudo crianças. O médico informava que a população não aderiu aa vacinação e não a tomava de livre vontade e os pais por desleixo não vacinavam os filhos. A Câmara procura evitar a propagação da doença mandando limpar algumas travessas e os candeeiros de iluminação pública por se considerarem anti higiénicos e pôr aa disposição do delegado de saúde duas meias barricas, uma de cloreto e outra de sulfato de cobre para desinfectar as valetas e outros lugares necessários.
As medidas não foram eficazes pois em Junho a Junta da Paroquia solicitara a devolução de um terreno, que havia cedido, junto ao cemitério, para alargamento do mesmo, por já não haver espaço onde enterrar mais pessoas. No final do ano a população entra em conflito com o médico, apontando-lhe algumas irregularidades e chegando mesmo a agredi-lo. A Câmara mandando averiguar os factos concluiu; que o médico dava lugar a contínuos conflitos e clamores exigindo de doentes pobres e indigentes honorários por serviços que por obrigação deve atender gratuitamente. Nega-se a atender quem não paga, chegando até a rasgar as receitas depois de as passar. Apresenta-se em casa dos doentes completamente embriagado. Chamado em casos urgentes, não vai. Na contestação que fez aas acusações contra si, exigiu assinaturas sob ameaças aos doentes que andava a tratar e outras são falsas, visto serem de pessoas que não sabem ler nem escrever, ou são moradores no Barreiro. Inquirido pela Câmara respondeu de forma inconveniente e ardilosa. Visto os factos foi por unanimidade aprovada a sua exoneração, para impedir vindictas contra os que o acusavam das irregularidades e restabelecer a tranquilidade afastando-o do meio daqueles que já não pode servir.
Notícias da Moita. Janeiro de 1998.

Sem comentários:

Enviar um comentário