Alhos Vedros em
1836
Após a vitória liberal na guerra civil,
procederam os governantes à reforma da administração pública. Uma das medidas
então tomadas foi a supressão de numerosos concelhos. Em 1836 foi decidido
manter a sede de concelho em Alhos Vedros suprimindo o da Moita, após consulta
às respectivas câmaras. Para essa decisão contribuiu a resposta da câmara de
Alhos Vedros que ficou registada no respectivo livro de vereações. Sem outros
comentários passo a transcrever conforme o original:
Auto de Vereações
Extraordinário
Ano
do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil outo centos e trinta e seis
aos dezanove dias do mês de Junho do dito ano nesta vila de Alhos Vedros e
Cazas da Câmara dela aonde se achavão prezentes o Presidente da Câmara Municipal
Apolinário José, e o Veriador António José Pereira todos reunidos em Câmara
Extraordinária, para proverem nas couzas do bem público o que fizeram pela
maneira seguinte:
E
na mesma pelo Presidente da Câmara foi apresentada uma Carta de Ofício da Ilustríssima
Junta geral do Distrito Administrativo de Lisboa asignada pelo secretário da
mesma Junta Joaquim José Pereira de Melo com data de outo do corrente mês e ano
vinda pelo Governo Civil de Lisboa na qual se manda em huma Nota junta à Carta
de Ofício no seguinte:
Que
esta vila de Alhos Vedros que forma o Concelho do mesmo Nome é huma das mais
antigas que existem nestas vizinhanças, a mais central das sinco vilas que
compunham o ex Juízo de fora da Moita, tem um termo bastante extenso e
produtivo, a vila em si bem cituada é arejada, com Porto de Mar junto à vila
com Embarcação de Carreira pertencente à Caza do excelentíssimo Conde de
Sampaio além de outras mais Embarcações, tem uma boa Igreja Matriz à qual está
reunida a Freguesia de santo André de lugar da telha que tão bem foi em outro
filial desta, tem uma Magnífica Misericórdia com rendimentos que não só faz
esmolas aos pobres desta vila mas até aos pobres que vem das outras terras do
Reino que se dirigem para o Hospetal de Lisboa, tem umas boas cazas da Câmara
com cadeia Azougue e Pátio.
Além
da produção Agrícola Fabrica no termo o melhor de doze mil moios de Sal fino do
melhor que se conhece e mil pipas de vinho.
Esta
vila pela sua cituação central e mais circonstâncias que nela concorrem pode
formar um bom concelho cómodo para os povos reunindo-se-lhes as vilas de
Lavradio e Coina com os seus competentes termos os quais se incluem os três
grandes lugares de Palhais Santo antónio da charneca e Telha mesmo porque já
foram filiais desta mesma vila athé mesmo Parochos com a sua Cruz Alçada e Povo
são obrigados digo são ainda hoje obrigados a vir a esta vila em Domingo de
ramos assistirem à festividade de Nossa Senhora dos Anjos todos os anos, e athé
mesmo a vila da Moita que já foi filial desta, e isto por provizão de Alvará
Régios que tudo se acha Registado no Cartório desta Câmara.
Esta
vila não dade de maneira alguma Anexar-se à vila da Moita porque não tem as
comodidades precizas, primeira porque a sua Igreja que serve de Freguesia é uma
pequena Capela indessente, Segunda não tem Misericórdia, Terceira não tem Caza
da Câmara pois está servindo uma caza arrendada, Quarta este Povo achasse hoje
em grande revalidade hum com o outro chegando athé o Povo da moita a passar o
seu termo e vir ao termo desta vila às Marinhas dar muita pancada em alguns
moradores que ali se achavão trabalhando e athé lovarão hum dos seus moradores
prezo para a Cadeia da Moita e isto muito moderno por terf acontecido no ano de
mil outo centos e trinta e quatro e de tudo existe documentos que não vão por
falta de tempo à vista do exposto se se verá ficar a anexação a revalidade
entre os dois Povos mais aumentará e pode trazer ciecoustâncias dezastrosas por
Consequência julga esta Câmara Municipal que não deve aver tal Anexação.
Rubricas das pessoas presentes
Esteiro. Abril de 1998.
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