Alhos Vedros no
século XVII
O concelho de Alhos Vedros no século
XVII, desde Palhais a Sarilhos, viveu da ligação directa ao Tejo e da
acessibilidade à capital, sofrendo de forma proporcional as vicissitudes
ocorridas em ambos.
Pelo Tejo saíam os produtos. Em primeiro
lugar para Lisboa, como lhe competia na condição de subúrbio, em segundo para
exportar. Da mesma forma o inverso. Pelo Tejo chegavam os produtos
indispensáveis.
Também as indústrias mais significativas
e de maior peso económico dependiam desse comércio, não só com Lisboa como com
o estrangeiro.
Assim acontecia ao sal e ao vinho,
produtos para exportação, como ao trigo de que éramos carentes e era
indispensável para a laboração dos moinhos. O mesmo se aplica aos fornos de
vidro.
Assim acontecia com as lenhas e tojos,
os gados, o carvão e as pessoas passageiras que vão para Lisboa. Em períodos de
paz e estabilidade esse movimento torna-se intenso, em períodos de guerra e
instabilidade esse movimento é fraco ou mesmo nulo.
Os produtos cultivados no espaço
geográfico do concelho, eram quase exclusivamente a vinha, de onde a Ordem de
Santiago tirava os seus rendimentos e também se exportava. Algumas quintas,
poucas, referem árvores de fruto e legumes. Seriam para auto consumo ou para
pequeno comércio local pois a câmara ao longo do século nunca viu necessidade
de dar preços a esses produtos. Pelo contrário, as lenhas e tojos tinham preço
fixo e posturas que regulamentavam a apanha e o transporte, que era
significativo e indispensável. Mesmo os produtos da terra eram explorados em
função das necessidades exteriores.
Esta dependência do rio e de Lisboa cria
actividades e ofícios que se regulam pela hora das marés, como os carreteiros,
os estalajadeiros, os carregadores, os arrais e demais tripulação das
embarcações, etc, que constituíam um grupo importante da população e cuja
actividade era o transporte de pessoas e bens.
O cais da vila (tanto em Alhos Vedros
como nos outros locais do concelho) torna-se o centro da vila. Junto ao cais,
encontra-se o largo onde chegavam pessoas com seus fardos e carretas de bois,
carregadas de produtos, tomar a carreira de Lisboa.
Em lugar central do largo, a estalagem,
com ordens precisas para receber as pessoas, podendo o estalajadeiro perder o
arrendamento se o viajante tivesse razões de queixa. Aqui chegam as notícias,
se juntam as pessoas para falar e discutir e é por isso também espaço social e
de convívio.
No cais, cada maré é uma dose de
vitaminas. Pessoas vivem das necessidades dos carregamentos e descarregamentos
de cada maré.
Havendo muito para carregar e
descarregar, muitas pessoas passageiras, há azáfama em terra e o rio enche-se
de barcos.
A paragem ou o corte desta “veia” que é
o Tejo, faz parar toda a máquina económica do Concelho com posteriores re3flexos
económicos e sociais.
O Tejo é denominador comum a todas as
actividades económicas e sociais, ou pelo menos, às mais relevantes e
significativas, no espaço geográfico que foi o Concelho de Alhos Vedros.
Não admira pois, que devido à sua
localização, o concelho seja arrastado, inevitavelmente, pelas conjunturas
provocadas por interesses mais poderosos e que iam até à simples proibição da
navegação, como em casos de guerra.
Comunicação apresentada no Encontro sobre História
Local de Alhos Vedros.
Dezembro de 1991.
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