Compromisso de Pêro Vicente
A capela de S. Sebastião, anexa à
igreja de S. Lourenço, em Alhos Vedros, foi fundada por Pêro Vicente e sua
mulher Constança Vaz, em memória do seu único filho, que morrera numa batalha,
ao serviço do rei Afonso V, para que nela fosse sepultado, entre os dois,
quando eles próprios também falecessem. Porém, Constança Vaz morreu antes da
obra estar acabada e foi com o apoio de Catarina Lopez Bullhoa, criada de D.
Leonor, imperatriz da Alemanha, que Pêro Vicente terminou a capela e, bem
assim, construiu a ermida de Nossa Senhora da Vitória, no rossio da vila.
O compromisso da capela e da ermida,
feito em 1480, que se encontra no arquivo da junta de freguesia, estabelecia
que para as obras necessárias, deixava a marinha da Alfeirã, com 166 talhos, e
todos os governos necessários, assim como a horta e pomar, que ficavam juntos,
e um casal no termo de Abocelas, chamado de dona Senhora. Para a morada e
sustento do capelão deixava umas casas na praça, a vinha da Bem Fadada e um
terreno, estes só no caso de o capelão as querer tratar, se recusasse deveriam
ser dados ao ermitão, se também este recusasse, então, deveriam ser arrendados
e o produto da renda utilizado nos ordenados do capelão e nas reparações das
capela e ermida. Deixava também os ornamentos necessários à celebração da
missa, com destaque para dois qualezes de prata doirada, com cerca de 250
gramas cada, um que o capelão deveria entregar aos administradores após a
missa. Estes bens jamais poderiam ser vendidos ou aforados ou de qualquer modo
alienados.
Determina ainda que, após a sua morte,
seriam administradores o vereador e o juiz de fora, recebendo pelo trabalho 300
reais brancos, obrigando-se a prestar contas no fim de cada ano, que deveriam
ser registados pelo escrivão da Câmara ou pelo notário, pagando-se-lhe, para
isso 200 reais brancos. Caso não administrassem os bens convenientemente, nada
receberiam. Ficavam obrigados a contratar o capelão, por um período nunca
superior a um ano e pelo melhor preço, excluindo o prior da igreja, pois já
tinha suficientes rendimentos.
O capelão ficava obrigado a dizer missa
na ermida, às segundas, quartas e sextas-feiras, e na capela às terças,
quintas, sábado e domingo, pela alma de todos os moradores, não estorvando os
ofícios da igreja. Não cumprindo, deveriam as faltas ser descontadas no
ordenado ou despedido e admitido outro. Ficava ainda obrigado, todas as
sextas-feiras, por honra da vila e seus moradores, a rogar a Deus e a S.
Sebastião que os livrasse da peste e de todos os males.
Com a morte de Catarina Lopez, em 1490,
a administração das capelas ficou a cargo do juiz de fora e do vereador. Na
tomada de posse, efectuada nesse ano refere-se que a dita Catarina Lopez havia
decidido fundar um hospital, determinando que ficasse situado nas casas
acordadas para morada do capelão. Assim, as casas que tinham sido habitadas por
Pêro Vicente e Catarina Lopez, situadas entre a rua direita e a azinhaga
defronte da adega e lagar, passaram a servir de morada ao capelão, por doação
da herdeira Isabel Gramaxa.
Por último, pediam aos visitadores da
Ordem de Santiago, que nas suas visitas a Alhos Vedros, conferissem as contas
e, achando incorrecções, obrigassem os administradores a cumprir segundo a sua
vontade, expressa no compromisso, tal como pediam aos homens bons de Alhos
Vedros que assistissem à tomada de contas, pois participavam nas missas que se
celebravam, logo eram parte interessada.
Jornal O Rio. 15 /6 /1998.
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