As salinas
A exploração do sal em Alhos Vedros
acompanha o processo de povoamento pós reconquista, antecipa e impulsiona o
surgimento e a criação de instituições administrativas.
Os historiadores em geral consideram
que, desde sempre, o sal é exportado no litoral português, através de
mercadores e navegantes que o procuravam.
António Sérgio considera mesmo que na
Idade Média o equilíbrio económico do país radicava no comércio do sal,
funcionando como garante da vida rural.
Os historiadores que estudaram o
povoamento na “margem sul”, no espaço geográfico do concelho de Alhos Vedros,
concordam que este foi efectuado pós reconquista e basicamente por cristãos.
O sal e a sua importância surgem óbvias
na mais antiga documentação conhecida e confirma-se nos séculos posteriores.
As condições geográficas específicas,
que a região oferecia aos colonos, obrigam à formação de unidades económicas
autónomas, de características específicas. A conquista da região dividiu-se
entre a zona influenciada pela maré, sapais e pântanos, e a zona contínua de
terrenos arenosos, bastante freáticos, coberta de espessa vegetação ou
“quercis” que seria a vegetação primitiva.
Nestas zonas, particularmente difíceis de
dominar, de rentabilizar economicamente e de âmbito doentio, os primeiros
colonos conquistaram e transformaram-nas em locais habitáveis, alterando a
paisagem, pela criação das salinas e o plantio de vinha.
Foi esta dupla conquista que permitiu a
fixação humana na zona ribeirinha limitada pelo concelho de Alhos Vedros, e o
seu salgado disputado e regulamentado por Papas e Reis.
Todas as actuais localidades e
freguesias ribeirinhas, nos actuais concelhos da Moita e Barreiro, são, nos
primeiros séculos da nacionalidade, mencionados como quintas com suas marinhas.
A comendadeira do mosteiro de Santos
mandou, em 1432, tomar posse de todas as marinhas de Alhos Vedros. Nesse
sentido o seu procurador elaborou a lista de todas elas, com o nome dos
foreiros, preço do foro, quantidades de sal nas eiras e outras, pela qual se
constata existir 45 marinhas, entre as Verderenas e Sarilhos, que bordavam todo
o litoral destes concelhos.
Crendo, como a mais recente documentação
divulgada parece apontar, que a colonização desta “margem sul” se processou pós
reconquista, é de facto notável movimento, sobretudo no século XIV, de
conquista de uma região que passou a ser de grande importância para a economia
e a vida da capital e do país, como é o facto da expedição a Ceuta, considerada
como o início da expansão portuguesa, ter sido financiada com o produto da
venda do sal de Alhos Vedros.
A indústria salineira foi fundamental
para a fixação humana nesta região e manteve ao longo dos séculos até quase aos
nossos dias um papel de relevo na economia local que ainda não estudámos na sua
verdadeira importância e dimensão.
De facto, logo que os cristãos
conseguiram alguma estabilidade militar com a conquista definitiva aos mouros
do eixo Lisboa-Palmela-Alcácer os nossos colonos transformaram em poucas
décadas uma natureza hostil, em região bastante rentável para o país. Ainda
hoje se vê por vários quilómetros as muralhas, quase todas construídas por
esses primeiros colonos, sem dúvida uma obra gigantesca que justifica e
confirma o interesse comercial do produto.
Em minha opinião, a terra que temos hoje
muito deve a esses cristais, comuns até nas casas mais humildes, a que
vulgarmente chamamos sal.
Jornal O Rio.
1 /8 /1998.
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