domingo, 4 de março de 2012

A agricultura da Moita no final do Século XVIII

A agricultura da Moita no final do Século XVIII
A agricultura no final do século XVIII no concelho da Moita, cujos limites eram diferentes dos actuais, era bastante pobre.
Tomando os livros de Décimas dos Prédios Rústicos existentes no arquivo municipal como base de estudo, constatamos que até final do século o número de prédios rústicos foi em média de 120, embora em alguns anos esse número fosse inferior.
O tipo de cultivo mais praticado foi a vinha.
Utilizando o ano de 1776 como exemplo, verificamos que num total de 121 prédios, 75 são vinhas. Comparando com os outros anos o exemplo confirma-se. Se considerarmos ainda que quase as fazendas e quintas incluíam a vinha nas suas explorações, entenderemos melhor a importância que este produto representavam na economia agrícola local. Em termos de produção e considerando as vinhas propriamente ditas, não incluindo portanto a produção das fazendas e quintas, rondaria as 25 pipas anuais. As suas dimensões seriam por isso reduzidas onde apenas cerca de uma dezena teria capacidade para produzir uma pipa, e, duas ou três se aproximavam da produção de duas pipas. Assim, a maioria não produzia mais que 3 ou 4 almudes e parte significativa apenas um, o que é absolutamente ridículo.
Depois da vinha os produtos mais cultivados seriam os cereais panificáveis, particularmente o milho, algum trigo e em menor quantidade a cevada. Eram cultivados nas fazendas, quintas e zonas designadas genericamente como terras. A capacidade de produção e a rentabilidade era muito baixa. No caso do milho, por cada semente lançada à terra era possível colher 20 nas melhores terras, mas nas piores chegava ao exagero de colher apenas uma. Em média cada semente não rendia mais de doze. No trigo a situação é semelhante, por cada semente lançada à terra colhia-se em média seis. Era realmente muito pouco.
Os pomares eram cultivados nas quintas e fazendas, surgindo ainda algumas árvores de fruto integradas nos outros cultivos mas em número reduzido.
O mesmo se passava com os produtos hortícolas sendo uma produção quase inexistente. A batata que no século seguinte seria a produção mais importante não era ainda conhecida. Só nos primeiros anos do século XIX a Câmara promoveu campanhas para ensinar os agricultores a semear batatas.
Quanto à propriedade é sobretudo foreira. Isto é, o domínio directo das propriedades pertence ao titular do foro, cedendo este o seu domínio útil. O proprietário do domínio útil normalmente trabalhava essa terra, mas também arrendava a quem a cultivasse, no ano referido acontecia em treze casos, ou ainda empregar camponeses assalariados. Proprietários de foros, utilizando como amostra o ano de 1774, são apenas 22, sendo que 16 possuem apenas um ou dois foros, ficando o restante para apenas seis pessoas. Nesta época o grande proprietário é Baltazar Rosa com 23 propriedades, cabendo aos restantes em média 10 propriedades, entre as quais o convento de Santa Clara e a igreja matriz da Moita. Isentos de foro, ou seja, propriedades livres em que a mesma pessoa é proprietária útil e directa são apenas 25, quase todas de reduzidas dimensões, considerando a décima que pagavam.
Importante é também a toponímia destes prédios. Alguns topónimos chegaram até hoje outros desapareceram, vejamos por isso a seguinte relação: Quintas; da Freira, do Esteiro Furado, do Conde, do Calcanhar do Mundo, da Laranjeira, do Rosário, do Mocho, da Parvoíce, de S. Domingos, do Barachão. Fazendas; do Brejo, do Castanheiro, do Brexâo, das Caldeiras. Vinhas; da Lagoínha, da Telha, do Rena, do Bacelo, a Nova, da Pedra, a Pequena, da Torre da Pólvora, da Porta Vermelha. Surgem ainda terras chamadas do Pavias, da Horta, das Almas, das Boieiras, das Lanças, da Hortinha, da Quintinha, das Oliveiras, das Covas. Por fim, locais referidos como sítios: a Água Doce. O Chão do Quadrado, S. Sebastião, Courelas do Passo, a Broega de Baixo e de Cima, Brejoeira e Alto do Moinho.

Publicado no Jornal Notícias da Moita. 1 de Fevereiro de 1998.

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