domingo, 4 de março de 2012

As salinas

As salinas

        A exploração do sal em Alhos Vedros acompanha o processo de povoamento pós reconquista, antecipa e impulsiona o surgimento e a criação de instituições administrativas.
        Os historiadores em geral consideram que, desde sempre, o sal é exportado no litoral português, através de mercadores e navegantes que o procuravam.
        António Sérgio considera mesmo que na Idade Média o equilíbrio económico do país radicava no comércio do sal, funcionando como garante da vida rural.
        Os historiadores que estudaram o povoamento na “margem sul”, no espaço geográfico do concelho de Alhos Vedros, concordam que este foi efectuado pós reconquista e basicamente por cristãos.
        O sal e a sua importância surgem óbvias na mais antiga documentação conhecida e confirma-se nos séculos posteriores.
        As condições geográficas específicas, que a região oferecia aos colonos, obrigam à formação de unidades económicas autónomas, de características específicas. A conquista da região dividiu-se entre a zona influenciada pela maré, sapais e pântanos, e a zona contínua de terrenos arenosos, bastante freáticos, coberta de espessa vegetação ou “quercis” que seria a vegetação primitiva.
         Nestas zonas, particularmente difíceis de dominar, de rentabilizar economicamente e de âmbito doentio, os primeiros colonos conquistaram e transformaram-nas em locais habitáveis, alterando a paisagem, pela criação das salinas e o plantio de vinha.
        Foi esta dupla conquista que permitiu a fixação humana na zona ribeirinha limitada pelo concelho de Alhos Vedros, e o seu salgado disputado e regulamentado por Papas e Reis.
        Todas as actuais localidades e freguesias ribeirinhas, nos actuais concelhos da Moita e Barreiro, são, nos primeiros séculos da nacionalidade, mencionados como quintas com suas marinhas.
        A comendadeira do mosteiro de Santos mandou, em 1432, tomar posse de todas as marinhas de Alhos Vedros. Nesse sentido o seu procurador elaborou a lista de todas elas, com o nome dos foreiros, preço do foro, quantidades de sal nas eiras e outras, pela qual se constata existir 45 marinhas, entre as Verderenas e Sarilhos, que bordavam todo o litoral destes concelhos.
        Crendo, como a mais recente documentação divulgada parece apontar, que a colonização desta “margem sul” se processou pós reconquista, é de facto notável movimento, sobretudo no século XIV, de conquista de uma região que passou a ser de grande importância para a economia e a vida da capital e do país, como é o facto da expedição a Ceuta, considerada como o início da expansão portuguesa, ter sido financiada com o produto da venda do sal de Alhos Vedros.
        A indústria salineira foi fundamental para a fixação humana nesta região e manteve ao longo dos séculos até quase aos nossos dias um papel de relevo na economia local que ainda não estudámos na sua verdadeira importância e dimensão.
        De facto, logo que os cristãos conseguiram alguma estabilidade militar com a conquista definitiva aos mouros do eixo Lisboa-Palmela-Alcácer os nossos colonos transformaram em poucas décadas uma natureza hostil, em região bastante rentável para o país. Ainda hoje se vê por vários quilómetros as muralhas, quase todas construídas por esses primeiros colonos, sem dúvida uma obra gigantesca que justifica e confirma o interesse comercial do produto.
        Em minha opinião, a terra que temos hoje muito deve a esses cristais, comuns até nas casas mais humildes, a que vulgarmente chamamos sal.

Jornal O Rio. 1 /8 /1998.

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