domingo, 4 de março de 2012

Disputas pela posse da Ermida de S. Sebastião. 1805.


Disputas pela posse da Ermida de S. Sebastião. 1805.


        No início do século XIX a Câmara da Moita e o Prior da Freguesia, Padre Custódio José de Andrade, desentendem-se sobre a propriedade da ermida de S. Sebastião, pois ambos reivindicavam a sua posse.
        Em 6-7-1805, pretende a Câmara tomar posse da Ermida e ordena ao seu Escrivão que vá a casa do dito Padre, pedir-lhe as chaves. O Padre Custódio respondeu que não as dava, pois nada tinha com a Câmara. Visto esta atitude, decidem os vereadores e procurador da Câmara arrombar as portas da ermida e tomar a sua posse, cumprindo com todas as solenidades de Direito, ou seja: abrindo e fechando portas que se achavam fechadas, passando as mãos por paredes, sobrados, ornamentos e cálices; entrando no quintal cortaram ramos às árvores; jogaram terra ao ar e passaram as mãos pelo tanque e dez colmeias que aí havia.
        Para evitar posteriores contendas a Câmara determina que fosse intimado o padre Custódio ou qualquer outra sinistra pessoa, que se pretendesse obter a ermida de forma violenta, seria condenado na pena de 400 000 reis, que revertiam para as reparações da própria ermida e para cativos, pagos na prisão, de onde não poderiam sair sem a referida verba ser depositada nos cofres da Câmara, e sem determinação de Sua Alteza Real. São também intimados os oficiais da Câmara para não se comprometerem com as disposições das casas e logradouros anexos à ermida, sem consentimento e aprovação da Câmara, debaixo das mesmas coimas e penas.
        Para tomar esta decisão a Câmara da Moita entendeu que a ermida era sua propriedade. Justifica que as pertenças e administração da ermida, fora nos tempos passados, direito da Câmara de Alhos Vedros, (o que se demonstra desde as visitações de 1521 da Ordem de Santiago e nos séculos seguintes em diversos autos de vereação), e que esta posse se transferira para a Moita pela desanexação desta vila, acrescido pelo facto de ser propriedade real, ou seja, sobre a qual a coroa tem direitos, pois as regalias que pertencem às câmaras nunca acabam, e em toda a ocasião tem lugar.
        Todavia o padre Custódio não se intimou com a Câmara, pois dirigiu-se à ermida, tirou as chaves ao guarda nomeado pela Câmara, e pô-lo na rua, o escrivão registou que o guarda era um homem preto.
        Face a esta atitude do padre Custódio, o procurador do concelho, António de Sousa Freire foi à Corte na cidade de Lisboa informar-se junto do seu advogado e outros, sobre a legalidade do acto do padre. As informações recolhidas eram de opinião que a Câmara tinha toda a autoridade para citar o padre a responder pelo caso. Os vereadores e procurador optaram por esta via, por maioria de votos, dando conta do sucedido a Sua Alteza Real através da Mesa do Desembargo do Paço.
        Dias depois a Câmara volta a ocupar a ermida com as solenidades do costume e de direito, já atrás descritas, e determinam elaborar o inventário dos bens e ornamentos pertencentes à ermida, que eram os seguintes: 1 cálix de prata doirada com patena e colher doirada dentro de uma saquinha; 1 missal; 1 par de galhetas de estanho com um pratinho, 1 campainha, 2 alvas de pano de linho entre fino em bom uso guarnecidas de renda; 3 amitos, 2 de renda e 1 liso; 1 cordão de linho; 2 toalhas de pano de linho; 4 toalhas de pano de altar, 1 sobrepeliz de pano de rei; 3 balsas de corporais; 5 palas, 2 sanguinhas, 2 mantos tércios; 1 manto azul claro; 2 cazulas; 1 pano de púlpito; 2 sanefas; 4 cortinas, 1 frontal; 1 cobertura de altar; 1 frontal já velho; 14 castiçais de estanho; 6 castiçais com uma cruz; 1 banqueta de pão doirado; 1 imagem de Nª Sª dos Anjos com uma coroa de prata; 1 imagem de S. Amaro com resplendor de prata; 1 imagem de S. Roque, 1 imagem de Nª Sª do Paraíso com o Menino Jesus, 1 imagem de S. Luzia com seus olhos de prata na mão e resplendor de prata; 1 imagem de S. António com o Menino e resplendor de folha; 1 imagem do mártir S. Sebastião, padroeiro da ermida; 1 agnus dei metido em uma redoma de pau doirado, 10 ramos de flores secas de guarnecer o altar; 5 setas de prata; 1 lâmpada de latão amarelo lavrado; 1 escada de mão pintada; 1 estante do missal; 1 banca grande de pau de pinho; 1 banquinho de pau, de caixa com gaveta; 1 cadeira de encosto de pau de pinho pintada de verde; 1 imagem de Santo Cristo; 1 nicho com a imagem de S. Sebastião de folha-de-flandres com que o ermitão fazia os peditórios; 1 imagem de S. Pedro de Alcântara; 10 colmeias de abelhas no quintal; 1 alcatifa já velha; 6 bancos de pau.
        No final desse mês os rendeiros e foreiros da ermida são avisados pelo porteiro, para comparecer na Câmara para prestar reconhecimento e mostrarem se são ou não devedores dos seus foros.
        No ano seguinte os novos vereadores repetiram a tomada de posse e elegeram Domingos José Mendes como novo depositário dos bens da ermida sob compromisso de os entregar sempre que lhe fossem pedidos.

Notícias da Moita. 15 /4 /1996

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