domingo, 4 de março de 2012

Alhos Vedros em 1836


Alhos Vedros em 1836


        Após a vitória liberal na guerra civil, procederam os governantes à reforma da administração pública. Uma das medidas então tomadas foi a supressão de numerosos concelhos. Em 1836 foi decidido manter a sede de concelho em Alhos Vedros suprimindo o da Moita, após consulta às respectivas câmaras. Para essa decisão contribuiu a resposta da câmara de Alhos Vedros que ficou registada no respectivo livro de vereações. Sem outros comentários passo a transcrever conforme o original:

Auto de Vereações
Extraordinário
Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil outo centos e trinta e seis aos dezanove dias do mês de Junho do dito ano nesta vila de Alhos Vedros e Cazas da Câmara dela aonde se achavão prezentes o Presidente da Câmara Municipal Apolinário José, e o Veriador António José Pereira todos reunidos em Câmara Extraordinária, para proverem nas couzas do bem público o que fizeram pela maneira seguinte:
E na mesma pelo Presidente da Câmara foi apresentada uma Carta de Ofício da Ilustríssima Junta geral do Distrito Administrativo de Lisboa asignada pelo secretário da mesma Junta Joaquim José Pereira de Melo com data de outo do corrente mês e ano vinda pelo Governo Civil de Lisboa na qual se manda em huma Nota junta à Carta de Ofício no seguinte:
Que esta vila de Alhos Vedros que forma o Concelho do mesmo Nome é huma das mais antigas que existem nestas vizinhanças, a mais central das sinco vilas que compunham o ex Juízo de fora da Moita, tem um termo bastante extenso e produtivo, a vila em si bem cituada é arejada, com Porto de Mar junto à vila com Embarcação de Carreira pertencente à Caza do excelentíssimo Conde de Sampaio além de outras mais Embarcações, tem uma boa Igreja Matriz à qual está reunida a Freguesia de santo André de lugar da telha que tão bem foi em outro filial desta, tem uma Magnífica Misericórdia com rendimentos que não só faz esmolas aos pobres desta vila mas até aos pobres que vem das outras terras do Reino que se dirigem para o Hospetal de Lisboa, tem umas boas cazas da Câmara com cadeia Azougue e Pátio.
Além da produção Agrícola Fabrica no termo o melhor de doze mil moios de Sal fino do melhor que se conhece e mil pipas de vinho.
Esta vila pela sua cituação central e mais circonstâncias que nela concorrem pode formar um bom concelho cómodo para os povos reunindo-se-lhes as vilas de Lavradio e Coina com os seus competentes termos os quais se incluem os três grandes lugares de Palhais Santo antónio da charneca e Telha mesmo porque já foram filiais desta mesma vila athé mesmo Parochos com a sua Cruz Alçada e Povo são obrigados digo são ainda hoje obrigados a vir a esta vila em Domingo de ramos assistirem à festividade de Nossa Senhora dos Anjos todos os anos, e athé mesmo a vila da Moita que já foi filial desta, e isto por provizão de Alvará Régios que tudo se acha Registado no Cartório desta Câmara.
Esta vila não dade de maneira alguma Anexar-se à vila da Moita porque não tem as comodidades precizas, primeira porque a sua Igreja que serve de Freguesia é uma pequena Capela indessente, Segunda não tem Misericórdia, Terceira não tem Caza da Câmara pois está servindo uma caza arrendada, Quarta este Povo achasse hoje em grande revalidade hum com o outro chegando athé o Povo da moita a passar o seu termo e vir ao termo desta vila às Marinhas dar muita pancada em alguns moradores que ali se achavão trabalhando e athé lovarão hum dos seus moradores prezo para a Cadeia da Moita e isto muito moderno por terf acontecido no ano de mil outo centos e trinta e quatro e de tudo existe documentos que não vão por falta de tempo à vista do exposto se se verá ficar a anexação a revalidade entre os dois Povos mais aumentará e pode trazer ciecoustâncias dezastrosas por Consequência julga esta Câmara Municipal que não deve aver tal Anexação.
Rubricas das pessoas presentes

Esteiro. Abril de 1998.

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