domingo, 4 de março de 2012

Escola Primária Conde Ferreira da Moita


Escola Primária Conde Ferreira da Moita

        Desde o século XVIII que a Câmara da Moita assumiu a responsabilidade pelo ensino primário, contratando Mestres de Primeiras Letras, e disponibilizando instalações. Todavia durante mais de cem anos o ensino primário passou por diversas vicissitudes, tanto no que se refere a instalações como na nomeação de professores. Já depois de meados do século XIX esta indefinição é notória, pois o professor régio da Moita, solicita à Câmara que lhe seja paga a renda da casa onde dá aulas, na altura instalada na Travessa da Madre de Deus. A Câmara decide pagar a renda em causa o que provoca idêntico pedido desta vez da professora Maria Emília Guedes Mourão, da escola de Alhos Vedros para que lhe fosse paga a renda da casa. Neste caso a Câmara indeferiu o pedido, alegando que a professora em causa é proprietária da casa, logo não tinha direito a receber renda.
        É neste contexto que a Moita recebeu a novidade de que iria ter uma escola, ou seja, um edifício construído exclusivamente para esse efeito. Acontece que o benemérito Portuense doou à Moita uma escola primária, como fez com dezenas de localidades.
        Para um Concelho como a Moita um edifício escolar era uma miragem, tanto mais que passava a ser o principal e melhor edifício público da vila, pois nessa altura o Município não tinha sede própria, a construção dos Paços do Concelho eram ainda só um sonho, não tinha cadeia, pois era tão inadequada que os presos fugiam pelo telhado, e as indispensáveis ou obrigatórias, como a construção do cemitério, eram adiadas por sistemática penúria financeira da Câmara. O benemérito era o Conde de Ferreira, falecido pouco anos antes sem herdeiros, deixou em testamento a sua imensa fortuna para obras sociais, incluindo a construção de 320 escola por todo o país. A Moita era uma das localidades contempladas com a verba de 1.200$000 reis, que seriam entregues à Câmara em quatro prestações correspondentes a outras tantas fases de construção da escola, a saber: 1ª quando a obra de pedreiro estivesse a meio, 2ª depois de coberto o edifício, 3ª depois de acabado o trabalho de carpinteiro e trolha, 4ª depois de pintado, vistoriado e aprovado.
        A obra foi posta a concurso público e arrematada a 26/6/1869 por 1.444$000.
        O arrematante ficava sujeito a diversa obrigações contratuais, como por exemplo, concluir a obra até 15 de Dezembro, que foi cumprido, e depositar 90$000 reis, ou vinte libras como fiança, que lhe seriam devolvidos no fim dos trabalhos.
        No aspecto técnico da obra, o arrematante tinha de sujeitar-se rigorosamente às plantas e executar a construção com os materiais referidos na memória descritiva: a terra retirada dos caboucos seria espalhada no terreiro da escola; os alicerces e paredes seriam construídos com pedra macia de Porto Brandão e a argamassa empregue seria colhida do leito do ribeiro que atravessa o juncal, contíguo ao caminho-de-ferro, que dista uns cem metros da obra; os sobre arcos das portas e janelas, assim como a cornija e o campanário seriam construídos em tijolos de alvenaria; as ombreiras, peitoris, vergas das portas, janelas e chaminés, assim como os degraus das entradas seriam de boa cantaria e sem molduras; toda a canalização, incluindo os cotovelos, seria de canos de grez da fábrica da Abrigada; as bacias e sifons das latrinas seriam de loiça; todas as juntas seriam feita com cimento portland; o telhado seria amouriscado; o chão seria lajeado e ladrilhado assentando sobre um beton composto por dez partes de argamassa e oito de resíduos dos fornos da cal; as portas teriam bandeiras envidraçadas; os corrimões e balaústres seriam de ferro; portas, janelas e balaústres em madeira de casquinha; o alisares seria pintado de branco o tecto e as abas de amarelo; a sala de aula teria quatro ventiladores de madeira idênticos aos usados nas carruagens do caminho-de-ferro.
        A cal necessária para a obra seria fornecida pela Câmara, que arrendou o seu fornecimento a Vicente Maria Livério por 1$400 reis cada moio, na condição deste fornecer à medida que fizesse falta e de ser da melhor qualidade. Tinha ainda de desembarca-la no porto e fazê-la conduzir para a obra à sua custa, e ainda um depósito de 10$000 reis como fiança.
        A construção da escola foi rápida, antecedendo dois meses o prazo previsto. Logo em 29 de Junho a Câmara passa uma procuração ao senhor João Batista de Lima, negociante do Porto, para levantar a primeira prestação. Nos meses seguintes de Agosto, Setembro e Outubro a Câmara manda receber as outras três prestações correspondentes às respectivas fases de construção, afirmando na última que a obra estava concluída.
        Durante a construção constatou-se que a cozinha da casa do professor ficava completamente desprovida de luz. Para eliminar esta deficiência a Câmara resolveu gastar mais 15$084 reis que o orçado, numa pequena alteração de harmonia com a opinião dos técnicos, para eliminar o defeito.
        Incorporado no edifício escolar, ficava a casa do professor, com sala, saleta, cozinha e latrina, tudo lajeado e ladrilhado. Um verdadeiro luxo para a época, considerando que todas as casas da Moita eram de sobrado ou simplesmente de terra batida. Além disso o professor usufrui da habitação sem qualquer encargo. Refira-se que foi o professor Gregório Gonçalves da Silveira, nomeado em Agosto de 1869, em substituição do professor interino que era o capelão das almas. Padre Adriano Brito Pereira de Resende, a estrear a nova casa e a escola.
        A escola é inaugurada em 11 de Janeiro de 1870, na presença das autoridades habituais e em clima de festa, que o respectivo auto de vereação ilustra muito bem e que passo a transcrever, sem alterações ao original, apenas actualizando a ortografia: … reunidos pelas 9 horas na sala dos Paços do Concelho toda a Câmara e mais autoridades administrativas, judiciais e paroquiais e cidadãos previamente convidados, e a professora de instrução primária com os seus alunos. A convite do Presidente foram à Capela de S. Sebastião que serve de matriz devido às obras na de Nª Sª da Boa Viagem, onde foi ouvido por todos com a maior edificação missa por alma do benemérito. Daí foram ao edifício escolar, cujas portas e janelas foram logo abertas pelo Senhor Presidente que entrou no edifício à frente do préstito, convidou o professor a mandar os alunos tomar os alunos tomar os seus lugares. Fez o discurso inaugural declarando aberta a escola para todos os efeitos legais e entregou as chaves ao professor. Foi então a inauguração anunciada ao público por algumas girândolas de foguetes, e pelos hinos desempenhados pela Sociedade Filarmónica. Em seguida discursou o secretário da Câmara, o professor e o reverendo pároco da freguesia de S. Jorge, João José Libério da Costa. Seguiram depois para a sala dos Paços do Concelho acompanhados pela Sociedade Filarmónica onde se lavrou esta acta. A inauguração foi precedida pela bênção do edifício.

Notícias da Moita. 15 de Maio de 1996.

Sem comentários:

Enviar um comentário