domingo, 4 de março de 2012

Alhos Vedros no século XVII


Alhos Vedros no século XVII

        O concelho de Alhos Vedros no século XVII, desde Palhais a Sarilhos, viveu da ligação directa ao Tejo e da acessibilidade à capital, sofrendo de forma proporcional as vicissitudes ocorridas em ambos.
        Pelo Tejo saíam os produtos. Em primeiro lugar para Lisboa, como lhe competia na condição de subúrbio, em segundo para exportar. Da mesma forma o inverso. Pelo Tejo chegavam os produtos indispensáveis.
        Também as indústrias mais significativas e de maior peso económico dependiam desse comércio, não só com Lisboa como com o estrangeiro.
        Assim acontecia ao sal e ao vinho, produtos para exportação, como ao trigo de que éramos carentes e era indispensável para a laboração dos moinhos. O mesmo se aplica aos fornos de vidro.
        Assim acontecia com as lenhas e tojos, os gados, o carvão e as pessoas passageiras que vão para Lisboa. Em períodos de paz e estabilidade esse movimento torna-se intenso, em períodos de guerra e instabilidade esse movimento é fraco ou mesmo nulo.
        Os produtos cultivados no espaço geográfico do concelho, eram quase exclusivamente a vinha, de onde a Ordem de Santiago tirava os seus rendimentos e também se exportava. Algumas quintas, poucas, referem árvores de fruto e legumes. Seriam para auto consumo ou para pequeno comércio local pois a câmara ao longo do século nunca viu necessidade de dar preços a esses produtos. Pelo contrário, as lenhas e tojos tinham preço fixo e posturas que regulamentavam a apanha e o transporte, que era significativo e indispensável. Mesmo os produtos da terra eram explorados em função das necessidades exteriores.
        Esta dependência do rio e de Lisboa cria actividades e ofícios que se regulam pela hora das marés, como os carreteiros, os estalajadeiros, os carregadores, os arrais e demais tripulação das embarcações, etc, que constituíam um grupo importante da população e cuja actividade era o transporte de pessoas e bens.
        O cais da vila (tanto em Alhos Vedros como nos outros locais do concelho) torna-se o centro da vila. Junto ao cais, encontra-se o largo onde chegavam pessoas com seus fardos e carretas de bois, carregadas de produtos, tomar a carreira de Lisboa.
        Em lugar central do largo, a estalagem, com ordens precisas para receber as pessoas, podendo o estalajadeiro perder o arrendamento se o viajante tivesse razões de queixa. Aqui chegam as notícias, se juntam as pessoas para falar e discutir e é por isso também espaço social e de convívio.
        No cais, cada maré é uma dose de vitaminas. Pessoas vivem das necessidades dos carregamentos e descarregamentos de cada maré.
        Havendo muito para carregar e descarregar, muitas pessoas passageiras, há azáfama em terra e o rio enche-se de barcos.
        A paragem ou o corte desta “veia” que é o Tejo, faz parar toda a máquina económica do Concelho com posteriores re3flexos económicos e sociais.
        O Tejo é denominador comum a todas as actividades económicas e sociais, ou pelo menos, às mais relevantes e significativas, no espaço geográfico que foi o Concelho de Alhos Vedros.
        Não admira pois, que devido à sua localização, o concelho seja arrastado, inevitavelmente, pelas conjunturas provocadas por interesses mais poderosos e que iam até à simples proibição da navegação, como em casos de guerra.
Comunicação apresentada no Encontro sobre História Local de Alhos Vedros.
Dezembro de 1991.

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